Por Eros Viggiano, CEO e fundador da LogPyx.
Em ambientes industriais e logísticos, o convívio entre empilhadeiras, tratores, AGVs e pedestres é inevitável e, infelizmente, perigoso. As estatísticas são claras: milhares de acidentes envolvendo empilhadeiras e outros veículos industriais, muitos deles fatais, acontecem todos os anos no mundo, gerando não apenas perdas humanas, mas também altos custos operacionais e jurídicos relacionados à segurança do trabalho.
A boa notícia é que a Indústria 4.0 trouxe uma revolução também para a segurança intralogística. Soluções baseadas em sensores inteligentes, Inteligência Artificial e Internet das Coisas consolidam-se como uma barreira invisível, porém extremamente eficaz, na proteção de vidas. Bem-vindo à era da Segurança Intralogística 4.0.
Onde estamos
Atualmente, muitas empresas já adotam práticas fundamentais para tornar os ambientes de trabalho mais seguros, como o Diálogo Diário de Segurança, uma conversa rápida no início de cada turno para discutir riscos, medidas preventivas e reforçar a cultura de segurança. Junto a isso, aplicam a Observação de Práticas de Atividades, em que supervisores ou colegas observam tarefas sendo executadas, identificam desvios de segurança e reforçam boas práticas.
O uso de Equipamentos de Proteção Individual continua sendo obrigatório e essencial, complementando os controles administrativos e de engenharia. Além disso, tecnologias simples, porém eficazes, conhecidas como “low cost de alto impacto”, são cada vez mais aplicadas. Entre elas estão a projeção de luz azul ou linhas vermelhas no chão para alertar pedestres e criar zonas visuais de segurança, alarmes e giroflex LED que emitem sinais sonoros e visuais contínuos, espelhos convexos que melhoram a visão em esquinas e pontos cegos, e sinalização de piso para delimitar rotas e zonas de segurança. Essas soluções, combinadas com treinamentos, campanhas e reforços constantes, ajudam a criar uma camada robusta de proteção. Mas não podemos parar aqui: a evolução deve continuar, incorporando cada vez mais tecnologias inteligentes e processos que garantam não apenas segurança, mas também eficiência operacional.
De olho no risco: como a tecnologia previne acidentes
Além dos processos operacionais e das soluções tradicionais de segurança, a tecnologia se tornou uma aliada indispensável na prevenção de acidentes em ambientes logísticos e industriais. Sensores Ultra-Wideband (UWB) não enxergam, mas localizam com precisão de até 10 cm, funcionando com sinais de rádio de curtíssima duração. Eles criam zonas virtuais que detectam a aproximação entre veículos e pedestres equipados com tags, oferecendo desempenho excepcional mesmo em ambientes com muitos obstáculos físicos. UWB é altamente imune a interferências de estruturas metálicas e barreiras visuais, tornando-se uma das tecnologias mais confiáveis para segurança intralogística. Entre os fornecedores de destaque estão LogPyx Aura, ELOshield, Litum, Sewio e Kinetic Reflex.
Sistemas de Visão Computacional, também chamados de Câmeras Inteligentes para Segurança, utilizam câmeras com Inteligência Artificial e sensores LiDAR 3D para detectar, em tempo real, a presença de pedestres na rota de empilhadeiras. A IA interpreta as imagens, diferencia humanos de objetos e ativa alertas imediatos. Entre as soluções mais reconhecidas estão o francês Blaxtair e o alemão SICK Safe Visionary2, que não requerem que o pedestre utilize dispositivos e detectam qualquer pessoa, incluindo visitantes ou terceirizados sem crachá. No entanto, dependem de boa visibilidade e seu alcance é limitado, restringindo a aplicação em ambientes maiores ou mais complexos.
Sistemas baseados em RFID, especialmente na faixa UHF, permitem controle de acesso e rastreamento de ativos. Na segurança intralogística, detectam tags instaladas em pedestres ou veículos. Apesar de amplamente utilizados, apresentam menor precisão, alcance limitado entre 3 e 9 metros, maior suscetibilidade a interferências eletromagnéticas e dificuldade em criar zonas de alerta precisas, o que pode gerar falsos positivos ou negativos. LiDAR, tecnologia emergente baseada em sensores ópticos que mapeiam o ambiente em 3D, ainda tem aplicação limitada para segurança robusta, embora algumas empresas já realizem experimentos.
Benefícios além da segurança
Além de reduzir riscos, essas tecnologias aumentam a eficiência e apoiam a sustentabilidade, reduzindo afastamentos e passivos trabalhistas, diminuindo paradas operacionais, melhorando a reputação ESG da empresa e gerando dados para análise preditiva com suporte de Inteligência Artificial. Acima de tudo, proteger vidas é o maior retorno, incomparável a qualquer outro benefício. Segurança não é apenas protocolo ou exigência legal; é um pacto coletivo que afirma que cada pessoa importa. Empresas que priorizam a segurança assumem um compromisso moral com seus colaboradores e suas famílias. Cada barreira criada, cada tecnologia implementada e cada cultura de segurança fortalecida protege o que há de mais precioso: a vida humana.
Desafios e futuro da segurança intralogística
Os desafios estão mais na cultura das empresas do que na tecnologia. A resistência a investir em prevenção ainda é o maior obstáculo. O futuro aponta para ambientes industriais mais conectados, inteligentes e seguros, com UWB, visão computacional e Inteligência Artificial como pilares. Mais importante do que qualquer tecnologia é cultivar a Cultura de Segurança, na qual a segurança é prioridade diária, praticada por todos, e a consciência de segurança permite que cada colaborador identifique riscos e aja preventivamente.
Sem cultura e consciência, nenhuma tecnologia garante segurança plena. Por isso, além de investir em sensores e IA, é indispensável cultivar comportamentos seguros, disciplina e comunicação constante sobre riscos. No fim, nenhuma métrica supera o valor de uma vida preservada. Segurança não é apenas uma exigência; é um compromisso ético, humano e inegociável. Cada investimento em prevenção, seja cultural, processual ou tecnológico, reflete o que tem valor absoluto: a vida.