Por Renato Avelar, sócio e co-CEO da A&EIGHT e Eduardo Oliveira, Senior Manager de Tecnologia da Informação e líder do Comitê de Inteligência Artificial da ASICS América Latina.
Como colunista do Economia SP, me reuni com Eduardo Oliveira, Senior Manager de Tecnologia da Informação e líder do Comitê de Inteligência Artificial da ASICS América Latina, para um debate sobre inteligência artificial. O tema da Shadow AI emergiu como pauta central desde o início.
Expus a Eduardo que, no âmbito do Grupo A&EIGHT, desenvolvemos o Turbo Deck com o objetivo de estruturar a adoção de IA antes que se tornasse um problema. Trata-se de uma suíte corporativa com governança, frameworks e diretrizes que impede o avanço desordenado da inovação. A iniciativa surgiu da observação do mercado acelerando o uso de IA sem a infraestrutura mínima requerida.
Compartilhei ainda um cenário frequente nas corporações: Em uma organização com 20 mil colaboradores, basta que 5% deles assinem soluções de IA individuais em cartões corporativos para gerar aproximadamente R$2 milhões anuais sem supervisão e sem integração com a estratégia da empresa. Muitos profissionais sequer têm ciência de que a organização já dispõe de uma solução corporativa de IA. Esta é a materialização da Shadow AI nos planos operacional, financeiro e de segurança.
Eduardo apresentou uma perspectiva pertinente:
“A Shadow AI se manifesta em corporações, em uma consulta ao Chat GPT com dados sensíveis. No uso do Gemini com informações internas. Na aquisição de aplicativos sem aprovação da TI. No reaproveitamento de código de bibliotecas públicas com vulnerabilidades. Enfim, em tudo relacionado à IA que permanece desconhecido pelo time de tecnologia“.
Salientei que esse fenômeno ocorre porque departamentos isolados buscam acelerar entregas autonomamente. Desenvolvem automação, integração e aplicação sem padronização, documentação ou adequado tratamento de dados. A motivação é legítima, mas o efeito obtido é oposto ao desejado: fragmentação, ruído e risco.
Eduardo aprofundou a análise:
“Os impactos transcendem a esfera técnica. Incluem riscos regulatórios, danos reputacionais, instabilidade processual e uma falsa percepção de produtividade. Somam-se a isso impactos financeiros relevantes, como elevação inesperada de custos em nuvem e redução de eficiência. Daí a imprescindibilidade da governança. As empresas devem estabelecer políticas transparentes sobre uso de IA, acesso, finalidade, inputs, outputs, guard rails e responsabilidades. Precisam monitorar a localização dos dados e identificar os responsáveis pela manutenção de cada modelo após sua implantação“.
Comentei que pesquisas recentes corroboram esse alerta. A maioria das empresas já utiliza IA, mas poucas redesenharam seus fluxos de trabalho. Frequentemente, a tecnologia está presente, porém invisível, desconectada e incapaz de capturar valor real. É nesse vácuo que a Shadow AI prolifera.
Eduardo então contribuiu com uma visão prática sobre soluções eficazes:
“Um comitê interno multidisciplinar acelera a adoção de IA com segurança. Identifica processos elegíveis, estabelece padrões, reduz redundâncias e promove literacia digital. Mantém a organização alinhada e previne que cada unidade crie seu próprio ecossistema de automações sem controle“.
Afirmei que, quando os colaboradores recorrem à Shadow AI, revelam um comportamento significativo: todos desejam utilizar IA para melhorar seu trabalho. A dificuldade não reside na intenção, mas na carência de estrutura para o uso adequado.
Eduardo concluiu com uma visão clara sobre o futuro:
“Nos próximos dois a três anos, a Shadow AI deve transitar de problema oculto para oportunidade estratégica. As organizações que converterem esse uso espontâneo em um modelo de Trusted AI, com governança habilitadora, ambientes auditáveis e plataformas seguras, obterão ganhos substantivos de produtividade em total sintonia com a estratégia corporativa“.
Concluímos o diálogo com uma convicção compartilhada:
- Inovar sem direção conduz ao caos.
- Inovar com governança conduz à vantagem competitiva.
- A Shadow AI já habita as empresas. Cabe a cada organização optar entre combatê-la, ignorá-la ou convertê-la em alavanca estratégica.