Por Sthefano Cruvinel, CEO da EvidJuri.
A COP30 chegou com a promessa de ser o grande encontro global capaz de redefinir compromissos ambientais e reposicionar países diante da emergência climática.
Mas, enquanto governos anunciam metas ambiciosas, um ponto cego se repete de forma quase constrangedora: o impacto climático das big techs e da infraestrutura digital que sustenta a economia contemporânea.
Hoje, o mundo opera sob a crença conveniente de que digital é sinônimo de sustentável.
Na prática, essa visão se apoia em métricas incompletas, inventários que não capturam a natureza distribuída das emissões tecnológicas e metodologias que foram desenhadas para o século XX, não para uma sociedade movida a dados, modelos de IA e processamento de larga escala.
A maioria dos países fala em digitalização como motor da sustentabilidade, mas não inclui em seus compromissos climáticos qualquer métrica robusta sobre a pegada de carbono do próprio setor digital.
É como defender uma revolução verde sem considerar a energia que alimenta os data centers que processam essa mesma revolução. A matemática simplesmente não fecha.
Há ainda um risco adicional: quando plataformas digitais passam a ser as principais fornecedoras das ferramentas usadas por governos para monitorar, prever e reportar dados climáticos, cria-se um conflito estrutural. O setor que fornece a solução não pode ser o mesmo que permanece fora da régua de mensuração.
Essa dependência tecnológica, se não for acompanhada de critérios claros de governança e auditoria, transforma as big techs em atores quase imunes a escrutínio ambiental.
A COP30 tem a oportunidade histórica de corrigir esse descompasso. É hora de incluir o setor digital como categoria própria nos inventários nacionais, estabelecer métricas padronizadas de emissões tecnológicas, exigir relatórios de transparência energética e impedir que o marketing verde substitua a accountability ambiental.
A verdade é simples: não há neutralidade climática possível enquanto uma das indústrias mais poderosas do mundo opera sem um sistema de aferição claro, auditável e comparável. A COP30 precisa tirar as big techs da sombra e colocá-las dentro do debate real. O resto é narrativa.