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Você pegou o celular para quê mesmo?

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Foto: divulgação
Foto: divulgação

Vamos começar direto: se você está lendo este texto, é bem provável que esteja sendo interrompido agora. Talvez tenha uma aba do WhatsApp Web aberta. Ou alguma notificação piscando no canto da tela. Talvez você esteja lendo no celular, enquanto responde um e-mail, checa o extrato bancário e tenta lembrar por que mesmo abriu o navegador.

Seja bem-vindo à era do foco sequestrado. E sim, isso é mais sério do que parece.

Nesse artigo gostaria de colocar em pauta alguns dos ensinamentos que tive no livro Stolen Focus, do autor Johann Hari. Nessa obra o autor explora um tema que você provavelmente já sentiu na pele, a dificuldade crescente de prestar atenção em qualquer coisa por mais de 5 minutos. O problema, segundo ele, não é só falta de força de vontade. É um projeto bem estruturado. Há engenheiros, psicólogos comportamentais e algoritmos inteiros trabalhando para interromper você. E eles estão visivelmente ganhando.

O foco virou produto e você é o estoque

Hari conta que, em média, nós somos interrompidos a cada 3 minutos e meio. Isso não é uma metáfora. É dado real. Depois de cada interrupção, o cérebro leva cerca de 20 minutos para recuperar o mesmo nível de concentração que tinha antes. Ou seja, você começa a fazer algo, alguém te chama, toca uma notificação, você se distrai e… parabéns, você já perdeu meia hora sem nem perceber, isso sem contar os dias em que a gente simplesmente esquece o que ia fazer.

(E aqui entre nós: quantas vezes você pegou o celular pra fazer algo importante… e acabou esquecendo o quê era?)

Multitarefa é o novo sedentarismo mental

Um dos mitos mais perigosos que Hari desmonta no livro é o da multitarefa. A ideia de que conseguimos fazer várias coisas ao mesmo tempo não é só falsa, é prejudicial.
O cérebro humano não faz multitarefa verdadeira, ele só alterna entre tarefas rapidamente. E cada troca vem com um custo: queda de rendimento, aumento do estresse e perda de memória de curto prazo. 

É como tentar escrever um e-mail enquanto dirige na Marginal: você vai errar o e-mail ou bater o carro. Talvez os dois.

Não é só culpa sua, mas também é

Um dos grandes méritos do livro é que ele não cai na armadilha do “autoajuda punitiva”.
Hari mostra que o problema da distração não é apenas pessoal, mas estrutural. Estamos vivendo dentro de sistemas projetados para drenar a nossa atenção. As redes sociais, por exemplo, não foram criadas para conectar pessoas, mas para mantê-las rolando infinitamente, para vender propagandas.

O design é viciante, as recompensas são imediatas, e o conteúdo é cuidadosamente entregue pra manter seu cérebro em modo “mais um clique”. Não é só falta de disciplina. É tecnologia de ponta contra o seu córtex pré-frontal.

Mas também não dá pra jogar tudo no colo das grandes empresas. Em algum momento, a responsabilidade volta pra você, que continua dormindo com o celular do lado, ativando todas as notificações e achando normal estar sempre online.

Você não está perdendo o foco, estão roubando ele de você.

A grande provocação do livro e que você precisa levar pra casa é: Seu o foco virou um campo de batalha invisível. E quase ninguém está ganhando. Estamos mais cansados, mais distraídos, mais ansiosos e, ironicamente, com menos tempo, apesar de passarmos o dia conectados. Não é coincidência. É uma mudança ECONÔMICA.E como toda boa armadilha, ela se camufla de liberdade.

Então, vamos encerrar com uma pergunta desconfortável:

Qual foi a última vez que você pegou o celular pra fazer uma coisa — e esqueceu completamente o que era?

Se você teve que pensar… já sabe a resposta.

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empreendedor, CEO da EquilibriON e especialista em bem-estar digital.

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