Aos 31 anos, Paula Morais é diretora de operações e co-fundadora da InHire, uma HRTech que está mudando a forma como empresas contratam talentos.
De qualquer lugar do mundo (às vezes na Argentina, outras vezes no Nordeste, onde nasceu) ela gerencia uma equipe 100% remota que desenvolve uma plataforma de recrutamento inteligente, usada por empresas como Cielo, Magalu, entre outras, que pretende chegar a R$ 60 milhões de receita anualizada até o fim de 2026.
Nos últimos anos, transformou o modelo de trabalho distribuído em um diferencial competitivo, combinando produtividade com flexibilidade, e se posicionou como uma das startups mais promissoras do ecossistema de RH digital no país.
O nomadismo, segundo ela, nasceu de uma busca interna por melhorar sua relação com o trabalho e trazer maior qualidade de vida:
“O empreendedorismo é uma jornada solitária de quem precisa inspirar e mobilizar em meio a um cenário constantemente conturbado e cheio de incertezas. Nesse contexto, muitos fundadores ultrapassam o limite de uma relação saudável com o trabalho, priorizando o ‘dar conta de tudo’, em detrimento da saúde física, mental e emocional. A verdade é que a demanda é infinita e só fica mais complexa à medida que os resultados chegam”.
Na intenção de impor limites e buscar ter uma rotina de equilíbrio, decidiu viver por períodos de ao menos dois meses em diferentes cidades.
Essa mudança desencadeou uma série de aprendizados no seu processo de autoconhecimento e tem possibilitado se relacionar com o trabalho de uma forma muito mais saudável e enérgica.
“A cada cidade que vivo, descubro que o destino, na verdade, sou eu mesma”, diz.
A experiência tem inspirado outros empreendedores a repensarem seus próprios ritmos e a colocar mais intenção e coragem no ato de trabalhar, encontrando energia e propósito no caminho.
Uma líder em movimento
Paula começou a empreender cedo. Ainda na faculdade de Direito, percebeu que queria criar algo que conectasse as pessoas às empresas.
Depois de experiências em e-commerce e um intercâmbio no Canadá (fruto de uma bolsa da Fundação Estudar) decidiu unir educação e tecnologia.
Foi o ponto de partida para a Weber School, uma escola de tecnologia no Nordeste que formava profissionais para o mercado digital.
A jornada, no entanto, não foi linear. Com as dificuldades financeiras da Weber School, ela pivotou o negócio e criou a Intera, uma empresa de recrutamento voltada para o mercado digital.
O sucesso da Intera abriu espaço para um novo desafio: desenvolver um produto de tecnologia que fosse escalável e empático com o universo dos recrutadores. Assim nasceu o InHire, cofundada com Augusto Frazão e Juliano Tebinka.
Software “feito por recrutadores”
O grande diferencial está no DNA de quem a construiu: recrutadores criando tecnologia para recrutadores. A maioria dos colaboradores da empresa já atuou em RH, o que se reflete na empatia com os clientes e na precisão das funcionalidades do sistema.
O software, um ATS (Applicant Tracking System), permite personalização de processos e automações com base em tempo, histórico e indicadores.
“Nosso produto nasceu da dor de quem viveu o recrutamento de perto. Queríamos algo que se adaptasse à realidade de cada cliente, e não o contrário”, explica.
A startup aposta na inteligência artificial como copiloto, não como substituto. A tecnologia automatiza tarefas repetitivas, como triagem de currículos e resumos de entrevistas, mas sempre mantendo o humano no centro da decisão.
“A IA libera tempo para que as pessoas possam pensar, criar e cuidar”, diz.
Desde o início, funciona 100% online, com colaboradores espalhados pelo Brasil.
“Trabalhar distribuído nos força a ser mais intencionais nas reuniões, nas metas, e principalmente no cuidado com as pessoas”, complementa.
Segundo ela, o modelo remoto se tornou um diferencial competitivo, atraindo talentos que valorizam flexibilidade e propósito.
Autenticidade e propósito
Autenticidade é um dos pilares de Paula. Nordestina e mulher na tecnologia, ela costuma dizer que empreender é uma forma de construir algo que reflita seus valores, não apenas o mercado.
“Minha motivação não é o dinheiro, é o impacto. Quero ajudar pessoas a se empregarem e empresas a crescerem”, acrescenta.
A fundadora acredita que propósito e resultados caminham juntos quando a empresa é centrada no cliente. Essa filosofia está presente no dia a dia do InHire: as áreas de produto, atendimento e dados são orientadas por uma única pergunta, como gerar mais valor para o cliente?
Enquanto muitas empresas buscam o retorno ao presencial, Paula representa uma nova geração de líderes que enxergam o trabalho remoto como uma vantagem competitiva e o nomadismo como uma ferramenta de aprendizado.
“Consigo me conectar com diferentes culturas e formas de pensar. Isso me ajuda a inovar, porque me faz questionar o status quo o tempo todo”, conclui.