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Empresas em monocultura estão ficando para trás e os dados mostram por quê

Foto: divulgação
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Por Ana Maria Coelho, pedagoga, consultora e palestrante.

Já parou para pensar que a forma como as empresas estão estruturadas pode determinar não apenas seu desempenho, mas sua sobrevivência? A constatação é cada vez mais clara entre especialistas em gestão e consultores que assessoram grandes companhias: modelos rígidos, homogêneos e hierárquicos estão se tornando inviáveis em mercados voláteis.

A metáfora que resume esse cenário ganhou força após uma apresentação que acompanhei do economista Daniel Motta, que há anos estuda o tema da liderança essencial. Segundo ele, organizações tradicionais operam como monoculturas: eficientes, mas frágeis. Já empresas com diversidade de repertórios e forte conectividade interna funcionam como florestas: sistemas capazes de absorver choques, se adaptar e regenerar.

Os dados ajudam a explicar por que essa metáfora é tão pertinente. O relatório global da Gallup mostra que apenas 21% dos trabalhadores estão engajados. A Deloitte registra que a complexidade organizacional cresce mais rápido do que a capacidade de resposta das empresas. E estudo recente da McKinsey indica que companhias com maior diversidade étnico-racial na liderança têm 39% mais chance de apresentar resultados financeiros superiores.

O que está acontecendo? Uma combinação de quatro forças vem pressionando modelos tradicionais:

1) Pressão social

A força de trabalho mudou. Mobilidade, autonomia e coerência entre vida e trabalho tornaram-se critérios de permanência. Segundo a Adecco, 53% dos profissionais consideram sair da empresa quando não percebem alinhamento de valores.

2) Aceleração digital

Tecnologias como IA generativa e blockchain já fazem parte do mínimo competitivo. O desafio agora é a velocidade decisória. Um estudo da McKinsey mostra que empresas que adotam práticas ágeis têm ganhos de até 30% em eficiência e velocidade.

3) Ambiguidade e complexidade

Com volatilidade crescente, aumentam também as situações sem respostas prontas. Dados do Fórum Econômico Mundial indicam que pensamento crítico, solução de problemas complexos e adaptabilidade emocional serão competências centrais até o fim da década. Mas muitas empresas reagem com o oposto: mais processos, mais camadas, mais controle. Uma pesquisa com 190 empresas aponta que formalização excessiva reduz a iniciativa para inovar.

4) Diversidade como ativo econômico

A BCG mostra que equipes diversas apresentam melhor retorno de inovação. A McKinsey reforça: diversidade étnico-racial correlaciona com maior probabilidade de outperform financeiro. Em ambientes imprevisíveis, quanto maior o repertório coletivo, maior a chance de encontrar soluções novas.

Esse conjunto de forças tem redefinido o perfil da liderança. O termo usado por Daniel Motta — liderança essencial — descreve um tipo de atuação que depende menos de carisma e mais da habilidade de mobilizar sistemas inteiros. Isso inclui transformar estruturas, criar pactos claros com as equipes e desenvolver a própria capacidade emocional para navegar incertezas.

No fim, o diagnóstico converge: monoculturas são eficientes, mas quebram fácil; florestas são complexas, mas sobrevivem. E, num mundo onde rupturas são a norma, a vantagem competitiva mais importante será a resiliência sistêmica, um atributo que não se compra, não se copia e não se terceiriza. Ele se constrói. E a arquitetura é feita pela liderança.

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