Por Éric Machado, CEO da Revna Tecnologia.
A velocidade de adoção tecnológica alcançou uma escala que redefine padrões históricos. O caso mais emblemático é o avanço das ferramentas de inteligência artificial generativa. Dados da OpenAI mostram que o ChatGPT atingiu cerca de 770 milhões de usuários globais apenas três anos após seu lançamento.
Segundo levantamento do World Bank, a internet levou 13 anos para chegar ao mesmo patamar. Essa comparação revela uma mudança profunda não apenas na capacidade tecnológica, mas no comportamento humano diante da inovação.
Vivemos uma era em que a curva exponencial deixa de ser teoria e se transforma em dinâmica diária de mercado.
Esse avanço está intimamente ligado à base que sustentou a revolução digital. A previsão formulada por Gordon Moore, cofundador da Intel, de que o número de transistores nos chips dobraria a cada 18 meses, guiou por décadas o crescimento do poder computacional.
Hoje, porém, essa lógica se expande para além do hardware. O ritmo de evolução algorítmica e do aprendizado das máquinas avança ainda mais rápido.
De acordo com a Stanford University, o custo para treinar grandes modelos de IA caiu dez vezes ao ano entre 2018 e 2023, impulsionando novos sistemas e acelerando ciclos de inovação.
Esse cenário afeta diretamente setores como saúde, educação, supply chain, finanças e gestão de pessoas, que passam a operar sob uma lógica de transformação contínua.
A ampliação do impacto da IA também aparece nas mudanças da força de trabalho. O World Economic Forum aponta que 44% das habilidades demandadas hoje nas empresas serão transformadas até 2027.
Isso exige profissionais capazes de lidar com ambiguidade, aprender rapidamente e tomar decisões éticas sob pressão.
O relatório da McKinsey indica que companhias que já incorporaram sistemas generativos registram ganhos de produtividade entre 20% e 40% em áreas como atendimento e vendas. Esses números mostram que a IA não está apenas chegando, mas alterando a dinâmica operacional e competitiva em tempo real.
Apesar disso, ainda é comum encontrar lideranças que tratam a tecnologia com mentalidade linear, acreditando que mudanças estruturais ocorrerão de forma gradual.
Esse ponto de vista ignora que o ciclo de adoção atual supera até o de plataformas digitais que marcaram a última década. Serviços como TikTok, que atingiram 100 milhões de usuários em nove meses, já haviam acelerado o ritmo de adoção.
Mesmo assim, foram ultrapassados pela IA. De acordo com a Harvard Business Review, empresas orientadas a dados e com processos de decisão rápidos são três vezes mais propensas a crescer acima da média de seus setores. Esses resultados reforçam que hesitar significa perder competitividade.
Enfrentar esse contexto exige uma combinação ainda mais profunda de coragem para investir no desconhecido e disciplina para executar a mudança cultural.
A inovação, por natureza, clama por ousadia, mas a escala atual da transformação demanda responsabilidade e, acima de tudo, uma nova arquitetura de maturidade estratégica.
O desafio não se resume a implementar ferramentas, mas sim em desenvolver a capacidade de governança necessária para conduzir equipes e negócios em ambientes de mudança contínua e imprevisível.
A tecnologia amplia capacidades exponencialmente, mas é a visão de quem define as prioridades, estabelece os limites éticos e assume a decisão de mudar o modelo operacional que determinará o impacto social e econômico no longo prazo.
Diante desses movimentos, a preparação deixou de ser opcional e se tornou uma imperativa urgente. Rever modelos mentais não é um exercício teórico, é uma reorientação prática: orientar decisões pelo ritmo exponencial e adotar a agilidade não apenas como método, mas como princípio organizacional fundamental.
Quem lidera precisa aceitar que a revolução tecnológica não segue padrões conhecidos e que o custo da observação inerte é a obsolescência.
Nesse novo ambiente, a vitória pertence àqueles que revisam seus modelos de atuação hoje, transformando a disciplina em ação e a coragem em vantagem competitiva sustentável.