Um estudo publicado no PubMed Central descobriu que os funcionários usam as redes sociais por cerca de 40 a 45 minutos por dia para atividades não relacionadas ao trabalho durante o expediente, o que corresponde a aproximadamente 10% da jornada de trabalho.
Segundo Bianca Aichinger, ex-executiva, coach e sócia-proprietária da Quantum Development, o cenário é reflexo de um mundo agitado, cheio de estímulos e onde a manutenção do foco em uma única atividade é algo desafiador.
“Se pensarmos nas mídias sociais como uma dopamina barata, podemos pensar que a mídia social de hoje pode estar exercendo o papel que o cigarro exerceu algumas décadas atrás, ao sair para fumar, o colaborador respirava e se re-organizava internamente. Será que trocamos uma droga por outra?”.
Ela sugere olharmos o que está por trás dessa prática, na tentativa de pensar caminhos para solução. A proibição do uso de celulares no expediente, a menos que seja por questões de segurança, não é um caminho, segundo a especialista.
“O papel do líder vai muito além da gestão do uso do celular: se o líder estiver fazendo um bom trabalho no que tange dar clareza de propósito e da missão, com metas e prioridades claras, acompanhamento próximo e apoio no desenvolvimento de seus liderados, aumentamos as chances de termos profissionais engajados e focados em resultados (e que não abusam da autonomia que tem)”.
Ela sugere que a empresa pode, e deve, tomar a frente para criação de ambientes onde haja uma relação saudável com a tecnologia promovendo uma cultura de equilíbrio.
Confira algumas sugestões de iniciativa:
Evitar mensagens fora do horário de trabalho
Gestores devem respeitar horários de descanso, evitando o envio de mensagens fora do expediente e incentivando pausas digitais. “O gestor deve ser o exemplo, demonstrando que desconectar também faz parte do trabalho produtivo”, explica.
Momentos de trabalho profundo
Criar momentos de “trabalho profundo”, em que notificações e reuniões são evitadas. isso ajuda os times a focarem em tarefas estratégicas sem o bombardeio constante de informações.
Treinamento
Oferecer treinamentos simples sobre uso consciente da tecnologia, mostrando como gerenciar tempo de tela, lidar com distrações e identificar sinais de sobrecarga digital.
Uso moderado de ferramentas internas de comunicação
Ferramentas internas de comunicação devem ser usadas com cautela, evitando excesso de canais e notificações desnecessárias.
Momentos presenciais
Incentivar o contato humano com reuniões presenciais, conversas diretas e feedbacks face a face reforça conexões reais e reduz a dependência das telas.
Pausas programadas
Incluir pausas programadas, dias sem reuniões e campanhas de “modo offline” ou encontros presenciais.
Bianca reitera que não são apenas as redes sociais que geram a não produtividade.
“Conversar no trabalho e fazer má gestão do tempo também são fatores de distração. Em ambientes de trabalho em que metas são cada vez mais desafiadoras, seres humanos precisam de descompressão e talvez o estejam fazendo de forma automática e pouco producente, e por isso seria interessante olhar o que está por trás deste comportamento antes de olharmos o comportamento em si”.
O uso das redes sociais no trabalho mostra que a dinâmica corporativa mudou de forma irreversível.
“Já não é possível voltar a modelos antigos de controle, por isso, líderes e empresas precisam focar em soluções práticas e alinhadas à realidade atual, equilibrando foco, produtividade e bem-estar. Criar rotinas, acordos e culturas que favoreçam clareza, autonomia e responsabilidade garante que a tecnologia seja uma aliada do trabalho”, conclui.