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2026 à vista: como definir estratégias num mercado em constante transformação

Foto: Paula Guimarães Lima de Souza.
Foto: Paula Guimarães Lima de Souza.

Sempre acreditei que planejar o futuro não tem a ver com prever o imprevisível — e sim com desenvolver a capacidade de adaptação. Essa é uma das premissas que mais guiam minha atuação, especialmente quando o cenário à frente se desenha incerto, como o de 2026.

Com um clima eleitoral incerto, o crescimento do PIB brasileiro projetado entre 1,8% e 3%, juros ainda elevados, inflação controlada e um mercado de trabalho sob pressão, o próximo ano desafia líderes a pensarem além das metas. Considerando ainda os elementos globais, com um ambiente em que as tensões geopolíticas e a aceleração da inteligência artificial impactam diretamente as dinâmicas de consumo e produtividade, a capacidade de reagir rápido, com estrutura e clareza, virou diferencial competitivo.

Liderar uma empresa em um mercado ainda em amadurecimento (o de ativos judiciais) me faz prestar mais atenção a todo esse potencial de oscilação. Mas a realidade é que o cenário é o mesmo para todo empresário – e num momento como esse não há setor que possa se considerar estável. A troca de visões e aprendizados é ainda mais valiosa em um momento como esse e, por isso, compartilho cinco movimentos estratégicos que considero indispensáveis para quem está desenhando o futuro agora:

1. Olhar sistêmico, decisões pragmáticas

Por mais que a tentação seja investir horas e mais horas na construção de apresentações imbatíveis, a boa estratégia hoje diz muito menos sobre planos perfeitos, e mais sobre nossa capacidade de fazer boas perguntas e priorizar com intencionalidade. Num cenário como o de 2026, isso significa rever rotas com frequência, ajustar prioridades com base em dados e manter um radar atento aos sinais externos. Acompanhar o noticiário e manter o ouvido atento ao que dizem os clientes, em busca de qualquer sinal que possa levar a um novo rumo, são exercícios que não podem nunca sair da rotina. É preciso estar presente no presente para liderar o futuro.

2. Inteligência criativa: dados + emoção + contexto

Estamos vivendo a era da inteligência criativa, onde dados, emoção humana e contexto se encontram para gerar decisões mais efetivas. A personalização em escala, impulsionada por IA generativa e dados sintéticos, redefine a forma como as empresas se relacionam com consumidores e stakeholders. As bases em que se dá a competição estão mudando diante dos nossos olhos e ser eficiente se tornou mera obrigação. O jogo agora é de provar o quanto você é relevante para o mercado e o quanto suas soluções estão verdadeiramente conectadas àquilo que cada cliente busca.

3. Governança como ponte entre agilidade e sustentabilidade

Em tempos de incerteza, improvisar parece ser o melhor caminho. Mas é justamente aí que a governança se torna ainda mais necessária. Ao longo da minha trajetória, um dos maiores aprendizados que tive foi o quanto uma governança bem estruturada faz diferença para os resultados do negócio. Estudar as boas práticas e entender quais são as políticas e normas de conduta que estão por trás dos negócios de verdadeiro sucesso (aqueles construídos para durar de verdade) é algo que mantenho em minha rotina e que sempre recomendo para quem também quer se desenvolver. Uma lição em comum a todas as empresas que admiro no mercado é o entendimento de que a agilidade não está na ausência de estrutura, mas na clareza das regras do jogo.

4. Liderança com propósito e presença real

O papel do líder nunca foi tão complexo quanto agora. Decisões precisam ser tomadas com velocidade, mas também com sensibilidade. Liderar, para mim, é mais do que entregar resultados: é construir confiança, sustentar cultura e dar exemplo. E isso começa com autoconhecimento, algo que, principalmente em momentos de alta tensão, é fácil relegarmos a um segundo plano. Este é o maior erro que um executivo pode cometer, afinal uma liderança sem alinhamento interno se perde em tempos de pressão.

5. Estratégia viva: planejamento com espaço para o improviso

OKRs ágeis, squads multidisciplinares, ciclos curtos de revisão… tudo isso é valioso. Mas nenhum modelo funciona sem uma cultura que abrace o aprendizado contínuo. Estratégia é um processo vivo e 2026 vai exigir líderes capazes de tomar decisões com a mesma naturalidade com que escutam, adaptam e evoluem.

No fim, empresas não são feitas apenas de planos, mas de pessoas que tomam decisões todos os dias. Isso vale para qualquer negócio, em qualquer tempo, mas quando falamos de mercados em transformação essa é uma realidade ainda mais implacável. Por isso é tão importante escolher com consciência, ajustar com humildade e seguir em frente com coragem.

Se 2026 traz riscos, também traz a chance de renovar nossos pactos com o que realmente importa: consistência, clareza e uma boa dose de humanidade nas decisões.

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Vice-presidente do conselho deliberativo da Droom Investimentos.

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