Muito se fala em inclusão financeira e democratização do crédito no Brasil, estes, são temas recorrentes em nossas discussões econômicas. Embora o debate tenha se iniciado já há algum tempo, inclusive com estudos bem estruturados sobre ações do Banco Central datados da década de 90, é inegável que o problema persiste afligindo uma ampla parte da população brasileira.
Avanço significativo mas ainda insuficiente
Nos últimos anos a digitalização e as novas tecnologias tem se propagado em uma velocidade impressionante, proporcionando desde um boom nas contas digitais e nascimentos de inúmeras fintechs, até inaugurando políticas inovadoras, como a implementação do PIX. Este conjunto de fatores possibilitou que milhões de pessoas abandonassem o status de desbancarizadas e passassem a fazer parte do sistema financeiro nacional. No final de 2018, período anterior à pandemia, havia cerca de 49 milhões de brasileiros desbancarizados, quase 23% da população adulta da época. Hoje, segundo a Exame, estima-se que este número tenha caído para cerca de 16%, o que é sem dúvida um progresso considerável.
No entanto, cabe aqui uma provocação: até que ponto estar bancarizado significa estar verdadeiramente incluído e bem assistido pelo sistema financeiro? A inclusão financeira vai além do acesso; incluir, na própria definição da palavra é a ação de integrar um indivíduo ou grupo dentro de um contexto do qual foram previamente excluídos ou marginalizados. Desta forma é importante salientar que o acesso ao sistema tem de contar com um tratamento digno e condições justas para que os novos entrantes sejam valorizados e considerados realmente incluídos.
O alto custo do crédito
O Brasil tem um dos custos de crédito mais altos do mundo, o que diminui a atratividade e afeta ainda mais aqueles que integraram o sistema há pouco, tanto pela dificuldade em acesso ao histórico financeiro, bem como pela abordagem financeira tradicional que privilegia quem tem maior poder monetário.
Este custo é impulsionado por diversos fatores como o cenário econômico incerto com a Taxa Selic ainda em patamares elevados, o próprio risco de inadimplência alto com uma das piores taxas de recuperação do mundo, falta de competitividade entre os bancos com pouca oferta de linhas de crédito pensadas para públicos diversos e uma burocracia muitas vezes excessiva e desnecessária.
Grande parte do problema também reside na falta de uma análise de crédito eficiente. Atualmente o mercado se apoia em scores de bureaus de crédito e fatores de origem negativa, sem levar em consideração a complexidade da economia brasileira e a importância de não tratarmos todos com a mesma moeda. Tratar a minoria dentro dos parâmetros da maioria, mesmo que ela tenha boa possibilidade de pagamento, é o caminho mais fácil e não inclui ninguém.
Há anos, esse mindset de mercado tem sido o padrão. Porém, ele é uma barreira ativa para incluirmos mais pessoas e usarmos o crédito como um elemento positivo na economia. O tradicional nos atendeu quando todos estávamos confortáveis com um mercado excludente, agora, precisamos propor alternativas inovadoras e trabalhar o novo.
Rumo a uma maior inclusão
Para redefinir a abordagem do mercado temos que contrabalancear o padrão tradicional, indo mais longe na análise e na concessão do crédito. Empregando a tecnologia como um meio potencializador, aprimorando assim a precisão da análise para aqueles que estão dando crédito na ponta, trazendo condições mais acessíveis, seja o crédito voltado para pessoa física ou jurídica.
Adotar uma visão mais holística para o crédito significa levar em consideração a complexidade da economia do nosso país, incluindo e trabalhando dados históricos de compra e renda familiar em conjunto com novas fontes de dados e riscos vistos antes como não financeiros (por exemplo, dados alternativos como uso de celular, navegação na internet e interações em redes sociais). Utilizando também tecnologias emergentes que evoluem dia após dia como modelos de crédito baseado em inteligência artificial, LLMs (large language models) e algoritmos de machine learning, minimizando assim os riscos, melhorando condições e tendo maior abrangência com taxas de aprovação mais elevadas.
Em conclusão, a inclusão financeira no Brasil tem evoluído positivamente com a digitalização e o avanço da tecnologia, mas ainda temos muito a percorrer quando se trata de qualidade e acessibilidade ao crédito. Estar “bancarizado” é apenas uma parte do processo. Deve-se assegurar que as pessoas não apenas tenham acesso ao sistema financeiro, mas também sejam devidamente atendidas e valorizadas dentro dele.
O alto custo do crédito no país, ainda é um desafio enorme. Por isso, é crucial mudarmos nossa abordagem na análise e concessão de crédito. A verdadeira inclusão financeira no Brasil passa necessariamente pela melhoria do crédito oferecido à população. Isso não apenas apoia as minorias, mas também deixa nosso mercado e a economia do país muito mais fortes.