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Como essa empreendedora quer ajudar a construir a terceira via de acesso à saúde no Brasil 

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Foto: Divulgação

A gratuidade de atendimentos ainda não torna a saúde um setor totalmente acessível aos brasileiros. De acordo com o Ministério da Saúde, até abril deste ano, mais de meio milhão de pessoas estavam na lista de espera do SUS (Sistema Único de Saúde) para cirurgias eletivas, exames e consultas médicas.

Na outra ponta, os planos de saúde estão passando por uma grande crise econômica, com um prejuízo de R$4 bilhões no primeiro semestre deste ano – mesmo com mais de 50 milhões de brasileiros com algum plano, de acordo com a Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS).

Para trazer mais opções de acesso à população, startups como a Melvi foram criadas. Fundada por Mariana Paixão, ao lado de Marcela Sobrinho e Nino Vashakidze, a healthtech usa a tecnologia para conectar pacientes a médicos especialistas sem cobrar mensalidade, com desconto médio de 50% nas consultas, agendadas, muitas vezes, para o mesmo dia e com base na localização do cliente. 

Mariana é a atual CEO da empresa, mas não foi sua primeira experiência no empreendedorismo. A economista foi cofundadora da Loft e responsável por suas operações até se tornar unicórnio no final de 2019. Decidiu que era hora de investir em algo que fizesse a diferença na vida e no dia a dia dos brasileiros e, por isso, fundou a Melvi, cujo objetivo principal é reduzir a sobrecarga do sistema de saúde brasileiro. 

Neste mês especial do empreendedorismo feminino, o Economia SP Drops conversou com Mariana para saber mais sobre sua jornada empreendedora e os próximos passos da empresa. Leia abaixo:

Como você decidiu se tornar empreendedora e qual foi a motivação por trás disso?

Mariana: Eu era do mercado financeiro (investidora de ações) e quando veio a crise da Lava Jato no Brasil, eu queria pular dentro das empresas e ajudá-las a crescer novamente. Mas esse não era o meu papel. Esse desejo de fazer as coisas acontecerem foi aumentando e aí decidi sair do mercado financeiro e entrar no time de fundadores da Loft. Viver a Loft me deu mais certeza de que nasci para isso! E agora, com a Melvi, quero ajudar a construir uma terceira via de acesso à saúde no Brasil, conectando pacientes a médicos especialistas em consultas até para o mesmo dia. 

Como você vê o papel das mulheres no mundo dos negócios e como isso evoluiu ao longo do tempo?

Mariana: Eu tenho 40 anos já (risos), então vi a representatividade das mulheres no mercado financeiro aumentando com a minha geração. Quando entrei no fundo em Boston, haviam 6 mulheres investidoras e desde da minha entrada, praticamente duplicou, mas mesmo assim ainda éramos algo em torno de 20% de representatividade. Em startups a gente tem visto mais e mais mulheres C-levels, mas como fundadoras, CEO e CTO, acho que ainda somos pouco representadas.

Qual é a importância do networking e do apoio entre empreendedoras para o sucesso nos negócios?

Mariana: Muito importante! Mulheres se abrem e admitem suas fragilidades. Ter amigas investidoras de Venture Capital e empreendedoras para poder falar a real e dividir os desafios faz toda a diferença para mim. 

Quais são os principais obstáculos que as mulheres empreendedoras ainda enfrentam atualmente?

Mariana: Acho que fundraising, vender você e a sua empresa para investidores, é um dos desafios que mais ouço de outras empreendedoras. Até porque isso exige networking com investidores homens, normalmente. Essa parte é menos difícil para mim porque eu era investidora. A minha maior dificuldade é viver os altos e baixos da jornada empreendedora sem sofrer muito nessa montanha-russa e sem deixar isso afetar tanto a minha família. Tenho três filhos e tento dar o melhor de mim para eles, mas nem sempre sobra o melhor de mim. 

Como você vê a representatividade das mulheres em posições de liderança e como isso influencia o empreendedorismo feminino?

Mariana: Sinto que mulheres atraem mulheres, então acabo me cercando por mulheres em posições de liderança. Acho que mulheres têm a facilidade de ter empatia e de motivar o time, além de serem grandes executoras. 

Quais são suas fontes de inspiração no mundo dos negócios?

Mariana: Me inspiro pelos empreendedores que conseguiram inovar no Brasil e mudar completamente indústrias como David Velez do Nubank, Gabriel Braga do Quinto Andar e Sergio Furio da Creditas, por exemplo. Pensar que eles fundaram suas empresas há mais de 10 anos, conseguiram acompanhar as evoluções necessárias como fundadores/CEOs e continuam entregando muito é inspirador. Inspirações femininas seriam a Toyun Ajayi da Citiblock Health e Anne Wojcicki da 23andMe por criarem grandes empresas de saúde nos EUA. Já tive o prazer de falar com a Toyun e o cofundador dela é nosso investidor-anjo.

Quais são seus próximos planos e objetivos? 

Mariana: Quero ajudar a construir a terceira via de acesso à saúde no Brasil com a Melvi, conectando pacientes a médicos especialistas em consultas até o mesmo dia. Nós entendemos que há três principais dores que o brasileiro sofre ao cuidar da sua saúde: a falta de agilidade na hora conseguir consultas com especialistas, o alto custo para consultas particulares quando não é possível esperar até as longas datas do sistema público ou dos planos convencionais e, o terceiro ponto, e talvez mais importante, é que ninguém merece ou deveria lidar com a eterna dúvida de se será ou não bem atendido. Essas são as lacunas que a Melvi se dispõe a preencher.

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