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A digitalização do mercado automotor chegou para ficar

Iago Átila
Foto: divulgação

Por Iago Átila, head e fundador do Compre Sua Peça.

O mercado automotor, que abrange a venda de peças para veículos como carros, motos, caminhões, além de veículos da linha náutica e agrícola, começou a experimentar uma transformação digital.

A digitalização no mercado automotor engloba frentes diversas, incluindo a modernização das concessionárias, a integração dos elos da cadeia de distribuição de peças e componentes e os fabricantes, e o uso de tecnologias para o comércio eletrônico e integração de dados. No entanto, grande parte desse mercado ainda opera com processos tradicionais, o chamado de “analógico”, o que abre espaço para inovações tecnológicas que podem transformar a experiência de compra e a eficiência operacional.

Desde montadoras, passando pelos fabricantes de peças, até os lojistas e mecânicos, muitos processos ainda dependem destes meios analógicos para transações, como o cadastro de informações e outras operações.

De acordo com dados do Sindipeças, o setor de autopeças no Brasil projeta um faturamento de R$ 248 bilhões em 2024, evidenciando a importância desse mercado, mas também a necessidade de modernização para alcançar uma eficiência compatível com o seu porte.

Transformações práticas na cadeia de valor do setor

A digitalização do mercado automotor traz consigo uma série de melhorias que podem transformar profundamente a cadeia de valor. Tecnologias como Digital Twins, manufatura aditiva, Big Data, inteligência artificial, realidade aumentada, e cloud computing estão reformulando os processos de produção e distribuição.

Além disso, conceitos como blockchain são fundamentais para o rastreamento de pedidos, garantindo maior transparência e segurança nas transações.

Nesse contexto, o movimento das AutoTechs tem ganhado destaque, representado em startups e empresas que desenvolvem soluções tecnológicas inovadoras especificamente para o mercado automotor.

Processos que antes dependiam de sistemas manuais, como a gestão de estoques e a logística de entrega, estão sendo otimizados por meio dessas tecnologias, oferecendo maior precisão e agilidade na troca de informações entre fabricantes, distribuidores e lojistas.

Com isso, a digitalização reduz custos operacionais, aumenta e melhora a informação sobre dados das peças e minimiza erros de aplicação, ao mesmo tempo em que também agiliza o tempo de resposta para o consumidor, tornando todo o ecossistema mais eficiente e competitivo.

A implementação de plataformas digitais para o gerenciamento de dados e a comunicação entre os diferentes elos da cadeia representa um salto tecnológico importante. Essas plataformas facilitam a transparência, o controle sobre a qualidade dos produtos e serviços, e potencializam a capacidade de conquistar novos mercados, impulsionar vendas e fortalecer o relacionamento com o cliente final.

Sistemas integrados permitem que as empresas que fazem parte deste ecossistema, acompanhem em tempo real o desempenho de suas vendas e ajustem sua produção e negócios conforme a demanda, evitando excessos ou faltas de estoque, e melhorando a relação com fornecedores e clientes.

No entanto, é importante notar que muitas empresas ainda não possuem uma área ou uma pessoa dedicada exclusivamente à digitalização. Essa função não é restrita ao marketing, TI ou comercial; ela exige conhecimentos específicos de ferramentas, soluções e plataformas inovadoras. As empresas precisam começar a entender a importância dessa expertise para o êxito na transformação digital, é importante pensar no departamento digital da empresa.

Ferramentas como plataformas B2B para lançamento de pedidos ou soluções de análise de dados, como o Power BI da Microsoft, podem facilitar a transparência e o controle sobre a qualidade dos produtos e serviços oferecidos. Sistemas integrados permitem que fabricantes de peças acompanhem em tempo real o desempenho de suas vendas e ajustem sua produção conforme a demanda. Essa visibilidade aprimorada, em última análise, ajuda a evitar excessos ou faltas de estoque, melhorando a relação com fornecedores e clientes

A ascensão dos canais digitais de vendas

O crescimento dos canais de vendas digitais também é um aspecto crucial na transformação do mercado automotor. Você conseguiria imaginar seu filho daqui a 10 anos indo a uma loja física para comprar uma peça para o carro dele? Assim como o mercado de entregas de alimentos e compras de supermercado evoluíram para o ambiente digital, o mercado automotor está seguindo o mesmo caminho.

E-commerces especializados, marketplaces de autopeças e plataformas de serviços de mecânica online estão emergindo como alternativas viáveis aos métodos tradicionais de venda. Esses canais oferecem aos consumidores a conveniência de pesquisar e comprar peças de maneira rápida e prática, além de permitir comparações de preços e avaliações de outros usuários, algo que não era possível nas compras físicas.

A Internet, sem dúvidas, tem se afirmado cada vez mais como o meio ideal para acessar novos mercados e consumidores. E se essa afirmação já não é uma novidade para diversos ramos de atividade, por que o mercado automotor ainda reluta em abraçar plenamente essa transformação digital?

Apesar das evidências claras dos benefícios trazidos pela digitalização, como a ampliação do alcance e a personalização da experiência do cliente, muitos negócios permanecem enraizados em práticas tradicionais. Isso se deve, em parte, à prosperidade do mercado, onde a alta demanda por peças permite que canais analógicos ainda se sustentem.

Somado a isso, a falta de conhecimento aprofundado sobre o digital entre as pessoas envolvidas na cadeia torna a jornada de transformação mais longa e desafiadora. No entanto, a digitalização dos canais de venda promete ser um combustível essencial para ampliar ainda mais o faturamento das empresas do setor, oferecendo novas oportunidades de crescimento e inovação.

Digitalizar, portanto, é um caminho natural e inevitável para a evolução do mercado automotor, assim como já aconteceu com os bancos, indústria farmacêutica, educação e turismo. O receio de abandonar métodos tradicionais em favor de soluções digitais é compreensível, especialmente em um setor historicamente marcado por práticas consolidadas.

Contudo, o risco real está em ignorar essa transformação e ficar para trás. O digital não veio para substituir o físico, mas para complementar e agregar valor, criando uma experiência “phygital”, que combina o melhor dos dois mundos. Com a devida permissão para o trocadilho, não é sobre reinventar a roda, mas sim sobre integrar as rodas existentes a um sistema mais moderno e eficiente.

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