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Empresas familiares, ou famílias empresárias, e os desafios do equilíbrio

Foto: Sensay/AdobeStock

É muito comum ouvir as pessoas falando sobre empresas familiares, mas eu prefiro outro termo: famílias empresárias. Para mim, essa expressão capta melhor o desafio que nós, sucessores, enfrentamos para equilibrar nossas vidas profissionais e pessoais, algo que muitas vezes só quem vive no contexto de uma família empresária consegue compreender profundamente.

Quando se fala nessa dinâmica, há quem pense que tudo se resume a expectativas sobre transferência de poder e sucessão. Porém, na minha experiência, isso é apenas uma das camadas e longe de ser a mais importante. O que eu priorizo e acredito que deveria ser o centro da atenção de todo sucessor, é a preservação dos valores, da cultura e da visão que construíram a empresa.

Como co-fundadora e vice-presidente do conselho da Droom Investimentos, eu vivencio esses desafios diariamente. A governança, por exemplo, se mostrou uma ferramenta essencial para estruturar a convivência, mas também para testar diariamente nossa maturidade organizacional e pessoal. É por meio dela que conseguimos assegurar a continuidade da empresa sem perder de vista o que realmente importa: nosso propósito e os princípios que sustentam o negócio.

O papel da identidade e dos valores

Uma das questões mais complexas em famílias empresárias é manter a identidade do negócio, mesmo em meio a processos de inovação e crescimento. Quando diferentes gerações se encontram no comando, há o risco de choques culturais e geracionais que impactam negativamente o negócio, caso não haja clareza nos valores que guiam a companhia.

Em muitas conversas que tive com amigos e colegas que vivenciaram ou vivenciam isso, noto que, por vezes, o entusiasmo das novas gerações e a certeza que eles carregam de ter um grande domínio técnico faz com que eles subestimem a experiência dos que vieram antes. A inovação é fundamental, mas ela só pode prosperar quando está alinhada aos valores que nos trouxeram até aqui.

Eu sempre acreditei que, para ser uma gestora eficaz, preciso estar profundamente conectada ao propósito e à história da empresa. Isso significa, por um lado, se especializar e respeitar o legado e, por outro, ter a coragem de questionar práticas e implementar mudanças necessárias.

Planejamento como ferramenta essencial

A falta de planejamento é uma das razões pelas quais muitas empresas familiares não sobrevivem às transições de liderança, mesmo quando não é uma sucessão definitiva de comando. O processo de chegada do herdeiro do fundador ao time de gestão precisa ser pensado com antecedência, de forma clara e inclusiva, envolvendo todos os membros estratégicos, sejam eles da família ou não. A governança corporativa tem um papel crucial nesse cenário, pois permite que as transições ocorram de forma menos traumática, ao estabelecer regras claras e garantir um ambiente de confiança e colaboração.

Sucessão não é só sobre quem assume, mas como assume

É difícil falar de famílias empresárias sem discutir os desafios da sucessão. Mesmo quando a mudança de cargos não está prevista para o curto prazo, é sempre uma perspectiva posta no horizonte, que acaba interferindo em todo o processo de formação dos sucessores.

Para quem não vive essa dinâmica de perto (ou só acompanha pelo que mostram as séries de ficção), parece que a única preocupação é definir quem vai liderar o negócio no futuro. O que pouca gente olha é que o maior desafio, na verdade, é como essa transição é feita. No ambiente corporativo que envolve familiares, as dinâmicas são mais complexas, porque o sucessor não lida apenas com expectativas profissionais, mas também com as expectativas familiares.

Sem um bom planejamento, uma execução cuidadosa e muito autoconhecimento, as questões familiares podem interferir no processo, tornando a sucessão algo ainda mais desafiador. E aqui entra outro ponto importante: sucessão não é apenas ocupar um cargo, mas construir a própria identidade enquanto líder, respeitando o legado, mas traçando um novo caminho.

Sucessões e a “sombra do fundador”

Um dos desafios mais comuns para sucessores é lidar com a “sombra do fundador”. Esse tipo de comparação pode ser um fardo pesado, e aprendi ao longo da minha trajetória que é preciso desenvolver meu próprio jeito de liderar, respeitando o caminho que meu pai trilhou, mas tendo a liberdade para moldar o futuro do negócio de acordo com minha essência.

O futuro é sempre uma visão de longo prazo

Uma das grandes vantagens das famílias empresárias é a capacidade de pensar no longo prazo. Os fundadores constroem legados que desejam ver perpetuados pelas gerações futuras, e os sucessores têm o privilégio e a responsabilidade de continuar essa história. Mas, para que isso aconteça, é essencial que a empresa esteja sempre se reinventando, adaptando-se às novas realidades de mercado e às demandas de cada época.

O caminho para uma família empresária é cheio de desafios, mas as vantagens são incomparáveis ao de qualquer outro tipo de negócio. Com o planejamento certo, uma governança sólida e uma cultura de confiança, essa convivência pode ser o motor que leva a empresa e a família para o próximo nível de sucesso. No fim do dia, o que realmente importa é que o negócio continue prosperando, fiel aos seus valores, mas sempre aberta ao novo.

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Vice-presidente do conselho deliberativo da Droom Investimentos.

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