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Sua empresa está pronta para as novas normas regulamentadoras de SST?

Foto: divulgação

Por Bruno Gurgel, CEO da EquilibriOn.

A partir de maio de 2025, as empresas brasileiras serão obrigadas a incorporar a avaliação dos riscos psicossociais em seus processos de gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SST). Essa mudança, trazida pela atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), em agosto de 2024, visa proteger a saúde mental dos trabalhadores, considerando o impacto de fatores como estresse, assédio e sobrecarga cognitiva no ambiente de trabalho. 

A introdução dessa obrigatoriedade reflete um movimento mais amplo de adaptação das normas de segurança à realidade do trabalho moderno, que, como veremos ao longo do texto, evoluiu bastante com o tempo.

Historicamente, as normas de segurança no trabalho surgiram em momentos de grande transformação social e econômica, como durante a Revolução Industrial. Nessa época, as condições de trabalho eram frequentemente insalubres e extremamente exploradoras, o que levou à criação de regras rígidas, como o uso obrigatório de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), para evitar que os trabalhadores fossem expostos a riscos físicos. Essas normas, inicialmente focadas em proteger os trabalhadores de lesões físicas, se expandiram com o tempo para abranger outros tipos de risco, como doenças ocupacionais, e mais recentemente, questões relacionadas à saúde mental.

A revolução tecnológica, que já altera profundamente a dinâmica de trabalho, é um dos fatores de atualização da NR-1. O trabalho de hoje, que em grande parte envolve o uso de tecnologias avançadas, exige um olhar atento para novos riscos, que não são mais apenas físicos, mas também psicológicos e cognitivos. 

A presença constante da tecnologia nos ambientes corporativos e a pressão por produtividade têm gerado impactos diretos na saúde mental dos trabalhadores. Ficar horas sentado, em frente a uma tela, realizando múltiplas tarefas e participando de videoconferências, afeta nossa capacidade cognitiva e, consequentemente, nossa saúde mental, física e emocional. São esses novos desafios que a nova regulamentação busca endereçar, ampliando a abordagem das normas de segurança.

Na prática, isso significa que os empregadores terão que ir além das medidas tradicionais de segurança, como a ergonomia e os EPIs, e começar a identificar e avaliar riscos relacionados ao estresse, à carga mental excessiva e aos conflitos interpessoais. Essas questões podem afetar diretamente a saúde do trabalhador, resultando em problemas como ansiedade, depressão e até síndrome de burnout. 

A mudança na NR-1, portanto, reflete a necessidade urgente de integrar a saúde mental no campo da Segurança e Saúde no Trabalho, reconhecendo que, assim como um ambiente físico insalubre pode prejudicar o trabalhador, um ambiente psicossocial tóxico pode ter consequências igualmente graves.

 A sobrecarga de estímulos digitais compromete o descanso necessário para que o colaborador se recupere e performe adequadamente no dia seguinte. Como resultado, a produtividade e o engajamento diminuem, enquanto o estresse e a fadiga mental aumentam. Esse comportamento está relacionado, em grande parte, ao fato de que os empregados muitas vezes não recebem orientação sobre como gerenciar a grande quantidade de informações e notificações que chegam a todo momento, seja dentro do ambiente de trabalho ou no âmbito pessoal. A cada nova notificação, um novo fator se soma ao que já está sendo processado cognitivamente, o que contribui para o estresse e dificulta o foco.

Segundo estudos, se uma pessoa for interrompida, pode levar até 23 minutos para retomar o que estava fazendo antes. Imagina então o impacto de receber 10 ou mais notificações por hora. Para muitos, essa sobrecarga de tarefas e informações, também conhecida como multi-tasking, acabam gerando uma perda significativa de desempenho ao longo do dia. 

Esse cenário tem gerado uma alta nos riscos trabalhistas, pois muitos funcionários, além de estarem sobrecarregados, não recebem o apoio necessário para gerenciar sua carga de trabalho e o uso excessivo de ferramentas digitais. Muitas vezes, o colaborador acaba recebendo mensagens e demandas fora do horário de expediente, o que contribui para o esgotamento mental e a dificuldade de separar a vida profissional da pessoal. Isso resulta em tarefas não planejadas e mal executadas, com funcionários investindo tempo e energia em demandas que nem sempre são prioritárias, o que pode levar a doenças ocupacionais e em casos mais graves, processos contra as empresas.

Nesse contexto, a atualização da NR-1, ao incluir explicitamente os riscos psicossociais, é uma medida importante para mitigar esse cenário. A partir de 2025, as empresas deverão identificar, avaliar e tratar esses riscos, com a implementação de medidas preventivas, corretivas e monitoramento contínuo, como parte do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO). A nova norma também exige documentação e registro de todas as ações tomadas, promovendo uma abordagem mais sistemática e abrangente.

Empresas que não se adaptarem a essa mudança podem enfrentar consequências significativas. Além dos riscos trabalhistas, que incluem a possibilidade de processos e penalidades, há o impacto negativo na reputação. É importante ressaltar que a tecnologia em si não é o problema; na verdade, incentivamos o seu uso de maneira estratégica e consciente. O que precisa mudar é a forma como a tecnologia é integrada no cotidiano das empresas, com foco no equilíbrio entre o uso produtivo e o respeito ao bem-estar dos colaboradores. 

Se implementadas corretamente, as novas exigências da NR-1 podem gerar benefícios significativos para as organizações, como a redução do absenteísmo, um ambiente de trabalho mais saudável, maior produtividade e uma imagem institucional mais forte. Afinal, proteger a saúde mental dos trabalhadores não é apenas uma responsabilidade ética, mas também uma estratégia inteligente para o sucesso a longo prazo das empresas.

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