Por Kleber Piedade, CEO da Bondy.
Com a interconexão da era moderna, onde a informação circula a uma velocidade sem precedentes, é paradoxal que uma parcela significativa dos trabalhadores ainda enfrente desafios para receber recados essenciais das respectivas empresas. Os chamados deskless workers – profissionais que atuam fora dos escritórios e, muitas vezes, longe de computadores e ferramentas digitais tradicionais – representam hoje 80% da força de trabalho global, afirma a Emergence. Esse dado, por si só, já revela a magnitude dessa classe de colaboradores, mas a realidade do dia a dia expõe desafios ainda maiores: como garantir que a comunicação corporativa chegue a eles de maneira consistente e relevante?
Historicamente – em especial nos últimos anos – empresas concentraram esforços em pessoas com acesso pleno a computadores, e-mails e sistemas como o Teams. No entanto, os deskless workers – presentes em setores como indústria, varejo, logística e serviços – têm pouco ou nenhum contato com essas ferramentas. Muitos não possuem e-mails corporativos ou sequer interagem com plataformas digitais específicas durante a jornada de trabalho. Além disso, o uso do celular pessoal como meio de comunicação é um desafio à parte, pois a capacidade limitada de armazenamento, a ausência de acesso frequente à rede e as notificações competindo com mensagens pessoais dificultam o alcance efetivo.
Estudos recentes mostram que boa parte dos profissionais de Comunicação Interna (CI) aponta como principal desafio fazer a informação chegar a esses especialistas. Isso é preocupante. O impacto da desconexão entre a organização e os profissionais que estão na linha de frente é profundo: gera desengajamento, falta de alinhamento com os valores da empresa e, em último caso, queda na produtividade e qualidade do trabalho.
Mais alarmante ainda é a percepção dos próprios trabalhadores. Segundo a FIRST UP, 74% deles sentem que não recebem recados importantes da empresa. No cenário que a transparência e o contato são essenciais para a manutenção da cultura organizacional e o engajamento, essa desconexão não pode ser ignorada. Saber o que está havendo não é um luxo; é o básico para garantir o sucesso.
A solução desse problema começa por uma mudança de prioridade. Profissionais de CI e Recursos Humanos precisam ter como objetivo garantir que a informação chegue a todos, independentemente de onde estejam ou de como desempenham as funções. Isso significa repensar os canais e os formatos de comunicação utilizados.
É fundamental que as empresas abandonem uma mentalidade ultrapassada que coloca esforços desproporcionais em ações pontuais, como eventos de final de ano, e dediquem-se a construir um fluxo consistente e inclusivo. A interação não pode depender apenas de computadores ou intranets – ferramentas pouco efetivas para quem trabalha na linha de frente. É preciso encontrar os profissionais onde eles estão.
Nessa perspectiva, o uso de aplicativos tradicionais de mensagens, como o WhatsApp, pode ser uma alternativa eficaz, desde que implementado de forma ética, respeitando os limites desses indivíduos e regulamentações como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Essa plataforma pode se tornar um canal direto, rápido e acessível para transmitir informações essenciais.
Outro ponto importante é a necessidade de adaptação do discurso. Para os deskless workers, mensagens curtas, claras e diretas são fundamentais. Além disso, a inclusão de recursos visuais, como vídeos e imagens, pode facilitar o entendimento e aumentar o impacto da comunicação. A urgência desse tema também passa pela necessidade de lideranças mais envolvidas. Gestores precisam se tornar multiplicadores de mensagens importantes dentro das equipes.
O momento é de revisão estratégica. Empresas que negligenciam os deskless workers estão deixando uma parte significativa e decisiva para o resultado. A solução não está em tecnologias complexas ou ferramentas pouco acessíveis, mas em encontrar os canais certos, comunicar-se de forma clara e colocar o trabalhador – independentemente de onde ele esteja – no centro do planejamento.