Por Karina Rehavia, fundadora e CEO da Ollo e da Social Talent.
Nos últimos anos, o conceito de “skills-based organizations” ou “organizações baseadas em habilidades” tem ganhado cada vez mais força no mundo corporativo. Esse modelo valoriza os conhecimentos individuais, uma visão mais ampla de tudo o que o ser humano carrega como fruto de suas aprendizagens nos campos formais, comportamentais, suas experiências de vida e trabalho, mais do que os requisitos tradicionais comumente exigidos em processos seletivos, como diplomas e títulos de funções. Conhecimentos técnicos, como o domínio de novas tecnologias, se destacam, mas não são os únicos a serem considerados. Os conhecimentos comportamentais – como colaboração, adaptabilidade e gestão das emoções – também emergem com crescente relevância.
Esse movimento vai além de uma simples mudança de foco. Ele transforma como as empresas operam internamente, segmentando atividades e distribuindo responsabilidades com base nas capacidades e experiências específicas dos profissionais. O objetivo é permitir que os colaboradores se conectem a oportunidades que se alinhem tanto aos seus conhecimentos quanto aos seus interesses atuais e futuros, criando um modelo de trabalho mais flexível e eficaz.
Aos poucos, a antiga gestão baseada em cargos e salários vai sendo substituída pela gestão de contribuições. Ao fazer isto, as empresas ganham muito mais competitividade pelo uso disponível de conhecimentos espalhados por todos os lugares, deixando de lado os silos. E ainda há a beleza de se contar com habilidades do lado de fora da empresa, criando uma vasta rede de conhecimentos disponíveis para a solução de problemas complexos. Em suma, temos um grande ecossistema total de talentos.
A importância do modelo baseado em conhecimentos
O conceito de uma organização baseada em conhecimentos redefine como o trabalho é estruturado dentro das empresas, permitindo que profissionais com diferentes conjuntos de conhecimentos sejam alocados para tarefas e projetos conforme suas competências, sem estarem restritos a um cargo específico. Uma pesquisa global da consultoria Deloitte revela que organizações que adotaram a abordagem baseada em conhecimentos são 63% mais propensas a alcançar resultados positivos em comparação com aquelas que não o utilizam. Essas organizações apresentam maior capacidade de colocar talentos nas funções certas (107% mais prováveis), de reter alto desempenho (98% mais prováveis) e de inovar (52% mais propensas). Além disso, essas empresas demonstram uma reputação mais forte como lugares para crescer e se desenvolver, com 98% mais chances de serem reconhecidas por suas boas práticas de desenvolvimento profissional.
Equidade e inclusão
Adotar um modelo baseado em conhecimentos também promove significativamente a equidade no ambiente corporativo. De acordo com os dados da Deloitte, 80% dos executivos afirmam que a adoção de decisões baseadas em conhecimentos pode reduzir os preconceitos em processos de contratação e promoção. Isso contribui para a criação de um espaço mais inclusivo, no qual o conhecimento se torna o principal critério de valorização, ao invés de fatores como tempo de serviço ou rede de contatos.
Além disso, 75% dos respondentes acreditam que esse modelo pode democratizar as oportunidades de carreira e melhorar o acesso a elas.
O modelo skill-based organization não é uma tendência passageira, mas sim uma forma cada vez mais necessária de estruturar as operações nas empresas. O futuro do trabalho será moldado por empresas que saibam identificar e mobilizar os conhecimentos certos, no momento certo, e para o propósito certo. Aquelas que continuarem presas a modelos antiquados não apenas perderão talentos valiosos, mas também sua relevância no cenário competitivo global.