Por Luiz Arthur Fioreze, diretor de Gestão de Fundos da Oryx Capital.
A recente valorização do real frente ao dólar tem sido recebida com otimismo por alguns investidores, mas a grande questão permanece: essa tendência é sustentável ou apenas um movimento passageiro?
No curto prazo, a cotação da moeda reflete a dinâmica entre oferta e demanda, mas o mercado de câmbio é influenciado por uma série de fatores, desde operações de hedge realizadas por grandes empresas até intervenções diretas do Banco Central.
Para ilustrar, imagine que uma grande empresa precisa fazer um pagamento em dólares dentro de seis meses para adquirir uma plataforma de petróleo. Para se proteger contra uma possível alta da moeda, essa companhia faz uma operação de hedge, comprando dólares no mercado futuro, movimento que aumenta a demanda pela moeda estrangeira, pressionando seu preço para cima.
Assim, caso o dólar suba até a data do pagamento, o lucro obtido na operação compensará o custo adicional da transação.
Por outro lado, considere que uma montadora planeja exportar carros em nove meses a um preço de venda estável. No caso, essa empresa adota a estratégia inversa: vende dólares no mercado futuro. Se o dólar estiver mais baixo na data do recebimento, a perda na receita será equilibrada com o ganho na posição vendida.
Esses exemplos ilustram como os vencimentos dos contratos de hedge variam conforme a necessidade de cada agente econômico, seis meses para compradores de dólares, nove meses para vendedores. Esse desalinhamento natural contribui para a volatilidade do mercado, entretanto, quanto maior a liquidez e o número de participantes, menor a probabilidade de grandes oscilações causadas por esses descasamentos. Ainda assim, a volatilidade permanece uma característica fundamental desse ambiente.
Um fator recente que tem exercido um papel crucial na dinâmica do dólar é a intervenção do Banco Central, que vendeu quase 10% de suas reservas cambiais para conter o overshooting da moeda. Essa ação funciona como “subsídio” temporário, proporcionando um dólar mais barato no curto prazo.
Contudo, a medida deve desencadear uma armadilha: ao tornar o dólar artificialmente barato, os agentes do mercado, seguindo os princípios básicos de oferta e demanda, tendem a aumentar a compra de dólares.
Em termos simples, quando o preço do dólar está abaixo do seu ponto de equilíbrio, a demanda excede a oferta, um cenário que deve, com o tempo, inverter a tendência e fazer o dólar subir novamente, de forma semelhante a tentar apagar um fogo jogando um pedaço de madeira em cima dele. Inicialmente, o fogo diminui com o menor acesso ao oxigênio, mas, em breve, aumenta por ter mais combustível (madeira).
No médio e longo prazo, o cenário se torna mais complexo. O governo brasileiro tem a possibilidade de mitigar a alta do dólar mediante políticas que incentivem a produtividade. Uma reconfiguração da carga tributária, reduzindo os tributos sobre bens e serviços e aumentando a incidência sobre o imposto de renda, deve ampliar as margens de lucro das empresas.
Esse aumento nas margens estimularia as contratações, os investimentos em maquinário e a criação de parques industriais, tornando o país mais atrativo para investidores estrangeiros. Com menor risco percebido, a necessidade de taxas de juros elevadas seria reduzida, beneficiando a economia ao diminuir a taxa de juros real.
Outro ponto importante para atenuar a alta do dólar, embora não consiga mantê-lo sob controle absoluto, é o papel das exportações líquidas. Atualmente, o Brasil apresenta um superávit comercial, exportando mais do que importa. Um dólar mais alto pode impulsionar a exportação de commodities agrícolas, trazendo mais dólares para o país e, assim, contribuindo para moderar a pressão cambial.
Em resumo, o mercado de câmbio é regido por princípios básicos de oferta e demanda, no qual operações de hedge realizadas por grandes empresas, intervenções do Banco Central e políticas de produtividade e comércio exterior interagem de forma complexa.
Enquanto medidas de curto prazo podem oferecer alívios temporários, os desafios de médio e longo prazo exigem políticas estruturais que elevem a competitividade e atraiam investimentos externos, garantindo assim uma estabilidade cambial mais duradoura para o Brasil.