Por Guilherme Pereira, diretor de inovação da Alura + FIAP Para Empresas.
A habilidade mais valiosa de um departamento de tecnologia não é o domínio de uma linguagem de programação específica, mas a capacidade de aprendizagem contínua e adaptação.
Segundo o relatório “Technology Skills Evolution”, elaborado pela Deloitte, 52% das competências técnicas atuais enfrentarão obsolescência parcial ou completa nos próximos três anos.
O estudo “Future of Work”, publicado pelo MIT, reforça essa tendência, indicando que executivos de tecnologia que não priorizam o desenvolvimento contínuo de seus times enfrentam um risco 2.7 vezes maior de falhar em projetos transformacionais.
Isso estabelece uma nova missão crucial para CIOs e CTOs: além de líderes de infraestrutura e inovação, precisam se tornar arquitetos de ecossistemas de aprendizagem corporativa, garantindo que o capital humano evolua no mesmo ritmo das tecnologias emergentes.
Se você lidera tecnologia em 2025, você também lidera aprendizagem organizacional.
A aceleração da obsolescência técnica
Até meados da década passada, conhecimentos sólidos em tecnologias estabelecidas como Java, SQL e cibersegurança eram suficientes para manter operações críticas funcionando. Hoje, essas competências ainda são relevantes, mas são apenas a base necessária.
A pesquisa “Technology Skills Lifecycle”, divulgada pela Gartner, revela que a meia-vida de uma competência técnica especializada caiu para apenas 18 meses em áreas como IA generativa, computação quântica e engenharia de sistemas autônomos. Para competências mais estabelecidas, esse prazo raramente ultrapassa 30 meses.
As ondas de inovação tecnológica agora se sobrepõem, exigindo que profissionais estejam constantemente em modo de reaprendizagem. Nesta realidade, a capacidade de absorver e aplicar rapidamente novos conhecimentos torna-se um diferencial competitivo crítico.
A corporação como academia de desenvolvimento contínuo
A resposta para este desafio não pode ser simplesmente adquirir mais licenças em plataformas de e-learning. Requer uma transformação cultural profunda. Organizações verdadeiramente resilientes abraçaram sua função como centros de aprendizagem contínua.
A Microsoft, por exemplo, expandiu seu programa “Future Ready” em 2024, investindo US$ 3.2 bilhões para requalificar 500 mil profissionais internos e externos em competências avançadas de cloud native, IA responsável e segurança cibernética.
O grupo Siemens implementou seu modelo “Digital Learning Ecosystem”, no qual 30% do tempo de trabalho dos profissionais técnicos é formalmente dedicado ao aprendizado de novas tecnologias e metodologias.
O estudo “Corporate Learning Evolution”, elaborado pela PwC, mostra que empresas que integram aprendizado ao fluxo de trabalho diário são 41% mais ágeis na adaptação a mudanças tecnológicas e possuem 37% maior retenção de talentos técnicos seniores.
Neste cenário, CIOs e CTOs tornam-se corresponsáveis pelo desenvolvimento acelerado de competências técnicas estratégicas, e pela sustentabilidade competitiva da organização.
IA e a nova liderança cognitiva
Com a consolidação da IA generativa e colaborativa no ecossistema empresarial, uma nova fronteira se estabelece. Ferramentas como Claude 3.7, GPT-5 e Anthropic Slate estão sendo integradas em todas as camadas da operação tecnológica, desde desenvolvimento até governança e operações.
Essa evolução muda fundamentalmente as competências necessárias:
- O desenvolvedor que apenas implementa código está vulnerável à automação.
- O profissional que domina arquitetura de sistemas complexos, engenharia de prompts avançada, validação rigorosa de saídas de IA e frameworks éticos de governança terá seu valor multiplicado.
O relatório “The Augmented Technologist” da BCG indica que profissionais que combinam expertise de domínio com IA aumentam sua produtividade em até 4.3 vezes frente aqueles que operam exclusivamente em paradigmas tradicionais.
Aqui emerge um papel estratégico para o CIO e CTO: cultivar competências que transcendam o meramente técnico e ampliem o potencial humano. Pensamento sistêmico, ética aplicada à tecnologia, resolução criativa de desafios complexos, design de soluções centradas no impacto humano e capacidade de colaboração homem-máquina tornam-se diferenciais críticos.
As competências mais valiosas agora são aquelas que potencializam a colaboração entre inteligência humana e artificial, um território onde a liderança técnica precisa navegar com visão estratégica.
O CIO moderno: arquiteto cultural e catalisador de evolução de competências
Este cenário reposiciona fundamentalmente o papel das lideranças tecnológicas, que agora não gerenciam apenas infraestrutura ou equipes, eles orquestram ecossistemas de aprendizado e inovação. E o seu escopo se expande significativamente.
- Passam a colaborar estrategicamente com o RH para desenvolver jornadas personalizadas de aprendizado para diferentes perfis técnicos.
- Atuam como curadores estratégicos de desenvolvimento de competências organizacionais, determinando o que precisa ser desenvolvido, potencializado ou descomissionado.
- Estruturam comunidades de prática multidisciplinares, facilitam aprendizagem peer-to-peer e implementam sistemas de gestão de conhecimento que capitalizam tanto sucessos quanto fracassos.
- Cultivam ambientes psicologicamente seguros onde experimentação, compartilhamento de descobertas e inovação responsável são incentivados.
Empresas com líderes de tecnologia que adotam esse modelo têm 43% mais sucesso em transformações digitais e 51% maior atração e retenção de talentos de alto desempenho, aponta o estudo “Leadership in Digital Transformation” do MIT.
Aprendizado contínuo como vantagem competitiva sustentável
No ritmo acelerado da inovação, a verdadeira diferenciação não está apenas nas ferramentas adotadas, mas na velocidade e profundidade com que a organização aprende a utilizá-las estrategicamente.
O CIO ou CTO em 2025 precisa assumir um papel expandido: ser o arquiteto do sistema de aprendizado corporativo. Sua eficácia será medida não apenas por projetos entregues, mas pela capacidade de impulsionar a evolução contínua e amplificar o potencial humano por meio da tecnologia.
No próximo ciclo competitivo, empresas que não transformarem aprendizado em competência essencial correrão o risco de se tornarem irrelevantes. Você está preparado para essa revolução?