Por Eduardo Parucker, CTO do Mission Brasil.
Não há mais para onde escapar: a inteligência artificial está em todas as rodas de conversa empresariais, da mesa dos mais altos executivos, aos grupos de WhatsApp e corredores do cafézinho. E com razão. Mais do que uma revolução tecnológica, a IA representa uma virada de chave no jeito de pensar, planejar e executar dentro das organizações.
Mas, calma: não é sobre os possíveis empregos que desaparecerão ou serão impulsionados pelo recurso que quero falar aqui. O foco é outro, e, possivelmente, mais urgente. Trata-se de entender o papel da IA como elo vital entre estratégia e execução. Sim, ela pode ser o novo motor fundamental que faz qualquer operação rodar com mais eficiência e inteligência.
O ambiente corporativo vive hoje um paradoxo. Nunca se falou tanto em estratégia, porém nunca foi tão difícil tirá-la do papel. Em meio a uma enxurrada de dados e decisões complexas, transformar boas ideias em resultados concretos virou quase uma arte, ao mesmo tempo que uma obrigação.
É aí que a IA entra como protagonista e o segredo para isso está em não tratar a tecnologia como um modismo, mas como parte de um ecossistema digital que transforma dados em ação.
O cenário atual prova por si só o poder dessa ferramenta: somente em 2023, os investimentos globais em inteligência artificial chegaram a impressionantes US$ 92 bilhões, com previsão de ultrapassar US$ 200 bilhões até o final deste ano, segundo projeção da consultoria IDC. Esses números não acontecem à toa.
As empresas perceberam que não dá mais para competir no escuro. Imagine saber, com antecedência, onde sua cadeia logística pode falhar, onde ela pode melhorar e crescer e ter tempo hábil para agir. Isso significa deixar de ser reativo e assumir o controle da operação.
Os exemplos práticos são cada vez mais concretos. Dashboards personalizados por área e por colaborador, CRMs que orientam equipes comerciais com base em comportamento de compra anterior, ferramentas que sugerem ajustes no supply chain conforme variáveis, até mesmo externas, como clima ou geopolítica, e muito mais.
Tudo isso já vem sendo usado por companhias que entenderam que dados só têm valor se forem transformados em decisões práticas.
Um dos maiores trunfos da IA está na sua capacidade de personalização. Cada membro da equipe pode acessar os insights certos, no momento certo, para tomar as melhores decisões. Não se trata de um relatório genérico enviado por e-mail toda segunda-feira. É sobre ter, na tela, exatamente o que você precisa saber.
Um gerente comercial, por exemplo, pode receber alertas com leads de maior chance de conversão, priorizados pela tecnologia com base no histórico de interações. Isso não é só eficiência. É inteligência aplicada à rotina.
Outro ponto crucial está na forma como essa poderosa ferramenta transforma a relação com clientes. CRMs inteligentes conseguem prever comportamentos, antecipar abandonos de produtos e até sugerir ofertas mais eficazes.
Imagine ser alertado quando um cliente está prestes a cancelar seu contrato, e poder agir antes que isso aconteça. É o tipo de proatividade que só a IA, apoiada numa análise preditiva com dados em larga escala, pode entregar.
Mas, precisamos ser francos: a IA não é sinônimo de mágica. Adotar a tecnologia sem um racional por trás também não faz sentido nas operações atuais. Sem clareza de objetivos, integração com processos ou pessoas preparadas para operá-la, o resultado será bem distante do que se espera.
Na verdade, praticamente o inverso. Será mais uma tecnologia cara, subutilizada e esquecida em alguma gaveta digital. Por isso, antes de pensar em IA, é preciso pensar em cultura, processos e metas bem definidas. Não custa sempre destacar, a tecnologia é meio, não fim.
No final das contas, a IA pode ser a tão sonhada ponte entre a visão e a execução. Entre o que se planeja e o que se entrega. Mas, como toda ponte, ela precisa de bases sólidas.
E essas bases estão no entendimento estratégico de onde e como se quer chegar. Quem conseguir alinhar estratégia, dados, pessoas e IA, vai estar muitos passos à frente num mercado onde o futuro já está presente.