Por Thiago Frêitàs, redator e especialista em IA da agência Vianews.
Quando foi a última vez que você tomou uma decisão de marketing sem consultar dados? É difícil imaginar isso acontecendo hoje. Conduzir estratégias sem o suporte de dados se tornou, para muitos, inviável.
Na era pré-IA, eram os relatórios que majoritariamente nos guiavam. Agora, é a inteligência artificial que organiza, sugere e até antecipa nossos próximos passos. Ela já escreve, segmenta e propõe estratégias.
Mas diante de tudo isso, uma pergunta precisa ser feita: quem está pensando por trás dessas entregas? A IA é poderosa, mas ainda precisa de direção. Ela pode sugerir um caminho, mas não conhece o posicionamento da sua marca, as dinâmicas dos clientes, nem as prioridades do board.
Quem interpreta esses sinais e transforma dados em ação ainda é o estrategista. É esse profissional quem dá sentido ao que a inteligência artificial produz.
Não se trata de usar LLMs para fazer tudo. Pelo contrário, soluções de IA estão disponíveis no mercado para agir e auxiliar no que mais consome tempo na rotina clássica do marketing: múltiplas entregas, análises manuais, tempo curto para pensar estrategicamente.
O novo estrategista de marketing não precisa competir com a IA, mas saber como trabalhar ao lado dela. Identificar o que automatizar e onde a inteligência humana faz diferença virou parte da estratégia.
O aprendizado contínuo também deve estar no radar desse novo profissional. Um relatório do Fórum Econômico Mundial prevê que 59% dos trabalhadores terão de se requalificar até 2030. E o principal motor dessa mudança é a tecnologia, que demanda cada vez mais habilidades como pensamento crítico, capacidade de análise e visão integrada de marketing e negócios.
Desenvolver habilidades é apenas uma parte da equação, mas o que realmente precisa mudar é a mentalidade. A era da IA exige de todos nós uma postura ativa: assumir o papel de tomadores de decisão com base em dados, e não apenas de executor de tarefas automatizadas.
E aqui cabe uma provocação: diante de um mercado extremamente veloz e competitivo, até quando vale a pena produzir sua comunicação ou desenvolver estratégias usando somente ferramentas de IA? Do ponto de vista da velocidade, pode até fazer sentido. Mas e quanto à criatividade? Aquela que exige repertório, contexto e empatia. Atributos que ainda escapam aos algoritmos.
Ser criativo não é apenas combinar palavras. Durante todos esses anos em que atuo com produção de conteúdo, posso afirmar que um dos maiores desafios que tenho como redator é interpretar contexto, anteciparmovimentos do mercado e entender mudanças culturais.
É por isso que, mesmo com ferramentas incríveis, ainda é o estrategista quem identifica o que emociona, o que engaja e o que realmente comunica. O julgamento humano continua sendo importante quando o assunto é impacto e significado. E isso não vai mudar.
Usar a IA apenas como um simples atalho para ganhar produtividade pode até funcionar no curto prazo, mas corre-se o risco de perder relevância. O volume por si só não sustenta uma estratégia. É o alinhamento com os objetivos de negócio, com o comportamento do público e com o momento da marca que faz toda a diferença.
Mais do que saber usar prompts, é preciso saber fazer as perguntas certas. Porque a IA responde com base no que recebe. E se a pergunta for rasa, a resposta também será.
Isso pode resultar em publicações de conteúdos genéricos, 100% produzidos com IA, que não refletem o tom de voz nem se conectam com o público. O resultado: ruído. Volume sem estratégia. A IA pode ser rápida, mas sem direção ela apenas repete o óbvio.
À medida que a inteligência artificial evolui, nosso papel como profissionais de marketing tende a se tornar cada vez mais relevante, como mediadores entre a tecnologia e o humano, entre dados e sensibilidade. Profissionais que desenvolvem essa consciência agora sairão na frente quando o uso da IA deixar de ser um diferencial e passar a ser pré-requisito.
A inteligência está nos dados. Mas a diferença está no que você faz com eles. E isso, por enquanto, continua sendo tarefa humana.