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México entre os “adversários” dos EUA: como isso impacta a economia e startups

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Foto: divulgação.

No dia 25 de junho aconteceu uma audiência da Senate Appropriations Committee e a advogada-geral dos EUA, Pam Bondi, classificou o México como “foreign adversary”, junto a Rússia, China e Irã, em razão do fluxo de fentanil para territórios americanos, logo em seguida, o Tesouro dos EUA impôs sanções financeiras a três instituições bancárias mexicanas (CIBanco, Intercam Banco e Vector Casa de Bolsa), alegando envolvimento em lavagem de dinheiro vinculada ao tráfico de fentanil 

O Departamento do Tesouro declarou que essas instituições eram “of primary money laundering concern”, bloqueando seu acesso ao sistema financeiro dos EUA (a primeira ação sob a FEND Off Fentanyl Act). Em resposta rápida, as autoridades financeiras mexicanas intervieram, e assumiram temporariamente as operações do CIBanco e Intercam, buscando mitigar impacto sobre clientes e evitar contágio sistêmico. Analistas já alertam que o colapso de apenas dois bancos médios (com ativos de US$ 4 a 7 bilhões, além de US$ 11 bilhões da Vector) poderia arrastar o setor .

Como isso impacta a economia e startups no México

  • Crédito mais restrito e caro: a repentina restrição ao acesso ao dólar do sistema dos EUA eleva o custo de liquidez para bancos, que tendem a reduzir repasses a empresas, afetando especialmente startups que dependem de operações transfronteiriças.
  • Desvalorização da confiança financeira: a inclusão no financial watchlist norte-americano reduz o apetite de investidores internacionais. Fintechs e startups emcripto perdem espaço competitivo, sofrendo com maior risco percebido e exigência de compliance agressiva.
  • Aumento da exigência regulatória: investidores demandam due diligence robusta, exigindo comprovação de que fundos e transações são “limpos”. Isso causa atrasos, custos jurídicos e operacionais adicionais para empresas em fase de expansão.
  • Barreiras comerciais explícitas e implícitas: a retórica hostil combinada com ameaças tarifárias (anunciadas desde março) pode vir acompanhada de inspeções aduaneiras mais rigorosas em produtos típicos de exportação de PMEs e startups mexicanas, reduzindo competitividade.

Resposta do México: estratégia e diplomacia econômica

  • Pressão soberana e transparência pública: a presidente Claudia Sheinbaum rejeitou a acusação público‑privada dos EUA, afirmando que até o momento não houve evidência concreta e cobrou das autoridades americanas a apresentação de provas claras, mantendo abertura à cooperação diplomática/especializada, sem aceitar subordinação “não somos piñata de ninguém”.
  • Expansão de hubs de inovação: como resposta estruturante, o México reforça incentivos fiscais e lança novos “Development Hubs”, com benefícios tributários volumosos (até 100% de dedução em investimentos fixos, +25% em capacitação e P&D). O objetivo é atrair investimentos em escala, reduzir exposição a restrições unilaterais e reposicionar o país como destino de inovação.
  • Fortalecimento institucional: o episódio acelera reformas no sistema de combate à lavagem de dinheiro, impulsionando a implementação de controles “KYC” (know-your-customer) e compliance bancário, particularmente em fintechs e startups que operam com transnacionais.

Cenário para startups: desafios e oportunidades

O atual cenário apresenta um mix de desafios e oportunidades para startups mexicanas. O risco de menor acesso a capital estrangeiro, especialmente americano, pode ser compensado pela busca ativa de fundos europeus, latino-americanos e do bloco BRICS, incentivando uma nova geografia de investimentos. 

No campo do compliance, apesar do aumento dos custos regulatórios, surge uma demanda inédita para especialistas em adequação legal e legaltechs, criando espaço para novas soluções no mercado. 

As exportações, que podem enfrentar atrasos por maior fiscalização nas cadeias integradas aos EUA, também abrem portas para uma diversificação de mercados, fortalecendo relações comerciais com países da América Latina e União Europeia. Por fim, mesmo com a confiança abalada de investidores internacionais, o fortalecimento de hubs de inovação internos, impulsionados por incentivos fiscais e apoio estatal, pode transformar esse momento crítico em uma oportunidade de desenvolvimento e reposicionamento estratégico.

Estar nominada como “adversária” dos EUA representa, acima de tudo, uma ameaça real ao dinamismo econômico mexicano (do sistema financeiro às startups em fase de crescimento). No curto prazo, a retração em crédito e investimentos é preocupante, mas no médio prazo a resposta mexicana, baseada em transparência institucional e estímulos fiscais aos hubs de inovação, pode gerar uma diversificação estratégica e fortalecer a resiliência do ecossistema.

Como consultora de internacionalização, reforço: startups e investidores devem aproveitar esse momento para fortalecer compliance, explorar novos mercados e posicionar operações em pólos incentivados, reduzindo vulnerabilidades associadas à relação com a economia dos EUA.

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CEO da Flow Vista

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