Por Lucas Vanzin, co-CEO da EVEO.
Nos últimos anos, o movimento de migração para a nuvem pública se intensificou, fazendo com que empresas de diferentes portes busquem soluções de infraestrutura para atender as demandas. Em paralelo a isso, com a cotação do dólar instável e a crescente pressão por previsibilidade desses custos de infraestrutura digital, aumenta o interesse de empresas brasileiras pela repatriação de dados, processo que consiste em migrar informações atualmente hospedadas em nuvens internacionais para data centers locais. Esse movimento representa uma decisão estratégica que busca otimizar custos, garantir governança e aumentar o controle sobre informações, especialmente entre organizações que lidam com grandes volumes de dados e demandam operações mais eficientes.
O modelo de cobrança das principais nuvens globais costuma incluir taxas para a saída de dados, o chamado egress traffic. Enquanto a entrada de informações raramente é tarifada, a movimentação para fora da nuvem, como no caso de transferências entre regiões, backups externos ou entrega ao usuário final, pode gerar custos significativos. Muitas empresas só percebem esse impacto quando a fatura chega, o que dificulta o planejamento financeiro e compromete a previsibilidade de gastos.
Menos dólar, mais previsibilidade
Repatriar dados significa reduzir a exposição a variações cambiais e abandonar um modelo de cobrança que, muitas vezes, não oferece clareza sobre os custos totais. Além de evitar o sobe e desce do dólar, a estratégia permite cortar despesas recorrentes com infraestrutura estrangeira e minimizar o impacto de tarifas por volume de tráfego de saída.
Organizações que mantêm servidores no exterior enfrentam não apenas os efeitos da instabilidade econômica global, mas também a complexidade de lidar com regulações internacionais. Ao manter os dados em território nacional, as empresas fortalecem sua soberania digital e operam sob as leis e regulamentações locais, o que facilita o cumprimento de normas como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). A proximidade jurídica e física contribui para a segurança reforçada, reduzindo a exposição a ameaças cibernéticas e a riscos geopolíticos que podem afetar infraestruturas em outros países.
Mais controle, mais eficiência
A repatriação digital traz ainda benefícios técnicos e operacionais. Com os dados fisicamente mais próximos dos usuários, é possível reduzir a latência e otimizar a performance das aplicações. Isso se reflete em uma experiência mais fluida para clientes e colaboradores, além de facilitar o suporte técnico com parceiros locais.
Outro ponto importante é a flexibilidade no gerenciamento de dados. Com a infraestrutura localizada no país, as empresas podem adaptar mais rapidamente seus sistemas às demandas do mercado, ajustar operações de acordo com suas próprias regras e desenvolver soluções alinhadas aos objetivos estratégicos do negócio.
Como repatriar com segurança
A decisão de repatriar a infraestrutura de dados exige um planejamento estratégico cuidadoso. É preciso mapear as cargas de trabalho, estimar os custos da infraestrutura local e garantir que o ambiente esteja preparado para receber os dados com segurança e continuidade. A escolha de um provedor nacional confiável, que ofereça suporte técnico e ferramentas robustas, é fundamental para a migração bem-sucedida.
Além disso, é importante adotar boas práticas, como compressão e de duplicação de dados, para reduzir o volume transferido durante a migração e, assim, evitar custos desnecessários. Com esse cuidado, a repatriação deixa de ser apenas uma resposta à instabilidade do câmbio e se torna um passo estratégico rumo a uma infraestrutura mais eficiente, resiliente e alinhada às necessidades do negócio.