Por Marcos Lavor, sócio diretor do Grupo Food Smart.
Quando pensamos em empresas bem-sucedidas, é comum atribuir o mérito a fatores como tecnologia, estratégia e até sorte. Poucos, no entanto, se lembram do elemento mais determinante para o sucesso de qualquer negócio: as pessoas.
Equipes de alto desempenho não são fruto do acaso nem resultado de uma seleção perfeita de talentos. Elas são construídas com intencionalidade, método e liderança.
A relevância desse tema nunca foi tão evidente. O engajamento profissional global caiu novamente em 2024, marcando a segunda retração em mais de uma década.
Segundo a pesquisa State of the Global Workplace 2024, da Gallup, apenas 21% dos trabalhadores no mundo se sentem engajados em suas funções. Esse desânimo representa um custo aproximado de US$ 438 bilhões em perdas para a economia global.
Por outro lado, empresas que conseguem construir equipes verdadeiramente engajadas estão nadando contra essa maré.
Conforme o mesmo relatório da Gallup, organizações com altos níveis de engajamento registram 18% mais produtividade, 23% mais lucratividade e uma redução de 81% no absenteísmo.
Esses resultados não acontecem por acaso: são consequência direta de políticas organizacionais centradas nas pessoas e de líderes que compreendem que uma equipe só atinge seu potencial máximo quando se sente valorizada, desafiada e apoiada.
No Brasil, o cenário reforça o alerta. De janeiro a setembro de 2024, o país registrou 6,5 milhões de pedidos de demissão voluntária, de acordo com levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Trata-se de um recorde histórico, alimentado por um mercado de trabalho mais aquecido e por profissionais em busca de propósito, desenvolvimento e qualidade de vida. O recado é claro: manter talentos exige mais do que oferecer um salário competitivo.
O mito do “time ideal” ainda seduz muitos empresários que sonham em montar uma equipe pronta, que opere quase como uma engrenagem perfeita. Mas essa é uma ilusão perigosa.
O time ideal não é recrutado; ele é lapidado. E isso só acontece quando a liderança decide investir em três pilares fundamentais: clareza de propósito, cultura de confiança e desenvolvimento contínuo.
Pessoas precisam saber para onde estão indo e por que o trabalho delas importa. Também precisam atuar em ambientes seguros para errar, aprender e inovar. E não basta cobrar resultados: é preciso fornecer ferramentas, treinamentos e feedbacks consistentes.
A ideia de que bem-estar e performance são opostos está ultrapassada. Hoje, sabemos que o bem-estar no trabalho é um dos principais motores de resultados sustentáveis.
A verdade é que empresas que investem no equilíbrio emocional, na saúde física e na satisfação de seus colaboradores colhem frutos tangíveis: menos turnover, mais inovação e clientes mais satisfeitos.
Criar uma equipe de alto desempenho é um trabalho diário, mas os líderes que se dedicam a essa construção colhem algo que nenhuma tecnologia consegue substituir: o comprometimento genuíno de pessoas que vestem a camisa da empresa.
Em tempos de mudanças rápidas e alta rotatividade, essa pode ser a diferença entre prosperar ou apenas sobreviver no mercado.