Com a proximidade do Dia do Advogado, que se comemora neste mês de agosto, me peguei pensando no quanto a carreira evoluiu ao longo dos últimos anos, fazendo com que até mesmo profissionais recém-formados tenham tido que se adaptar e atualizar de forma intensa.
Tradicionalmente, o setor jurídico foi marcado pela lentidão, excesso de burocracia e dependência do papel. Características pouco abonadoras, mas que eram difíceis de ser transformadas. Até que o setor, assim como a sociedade como um todo, foi “atropelado” pelas inovações. Assim como em muitos outros mercados, a busca por mais eficiência e agilidade em processos manuais impulsionou o protagonismo da tecnologia na rotina jurídica, com impactos que vão da digitalização de documentos à automação de tarefas repetitivas. Era um movimento que já dava sinais claros de que ia se impor, mas que ganhou força durante a pandemia e tem atingido patamares que, não faz muito tempo, seriam impensáveis, com a adoção de soluções tecnológicas de ponta em tribunais e escritórios de advocacia.
Transformação digital no setor jurídico: o fim da burocracia como conhecemos
A evolução tem feito com que a advocacia ganhe contornos muito mais parecidos com o visto em outras áreas. Mesmo que se mantenha, em alguma medida, um setor regido por características e códigos próprios, o direito tem se tornado muito mais conectado, estratégico e orientado por propósito. Mais do que as pequenas tecnologias do dia a dia, como as que permitem um melhor acompanhamento dos processos, isso se reflete uma maior integração entre departamentos jurídicos e outras áreas das empresas, o que tem sido aprimorado a uma grande velocidade, com o apoio de dados e inteligência artificial (IA).
A IA, inclusive, tem sido um dos principais motores dessa transformação. Sua aplicação na automação de tarefas e na análise de informações permite que os profissionais do Direito direcionem mais tempo à estratégia e à tomada de decisões, usando seu conhecimento para gerar impactos muito mais sólidos aos clientes e à sociedade. Hoje, já é comum o uso de tecnologia jurídica sendo aplicada em diversas áreas, como jurimetria (que consegue prever decisões judiciais com base em dados históricos), análise de contratos, extração de cláusulas, análise de riscos, due diligence automatizada e pesquisa jurisprudencial inteligente. Isso para não falar das ferramentas que geram impacto direto na relação advogado/cliente, como os chatbots jurídicos para atendimento inicial a clientes ou suporte interno. Tudo isso ajuda a lidar com alguns aspectos que estavam entre os maiores desafios dos profissionais do setor, como a economia de tempo e o aumento da assertividade.
Mas a transformação digital vai além da adoção de ferramentas pontuais. A partir do momento em que o advogado se vê liberado das tarefas mais repetitivas e operacionais, ele passa a ser convidado a exercer uma gestão estratégica. Nesse cenário, é possível perceber uma tendência no mercado: escritórios e departamentos jurídicos estão adotando uma mentalidade de startup, operando como legaltechs, com foco em eficiência, escalabilidade e inovação.
Isso mostra como as transformações são uma oportunidade e não uma ameaça, o que representa uma mudança de paradigma: o advogado deixa de ser somente um executor para se posicionar como consultor estratégico, valorizando o pensamento crítico, a criatividade e a visão de negócios.
Tecnologias emergentes que estão mudando a forma como contratos e registros são tratados
Entre as inovações mais promissoras na gestão jurídica está o uso do blockchain. Reconhecido por oferecer segurança, rastreabilidade e integridade, ele tem se mostrado uma base confiável para o registro de documentos jurídicos e evidências digitais.
Essa tecnologia possui uma série de aplicações transformadoras para o ramo do direito, como os registros imutáveis de documentos jurídicos e provas digitais, os smart contracts (que são autoexecutáveis e eliminam a necessidade de intermediários) e tokenização de ativos (uma área de que abre uma avenida de oportunidades a partir da conexão do direito com outras áreas, sobretudo no mercado de capitais, como temos demonstrado com a Droom).
Além do ganho em agilidade, transparência, rastreabilidade e diminuição de intermediários, o uso de tecnologias na gestão de processos jurídicos proporciona a redução do tempo de tramitação e a burocracia, com segurança da informação reforçada por criptografia e registro em blockchain e a transparência para as partes envolvidas, promovendo mais confiança no sistema.
O novo papel do advogado: de técnico a agente de inovação
Com a digitalização, o papel do advogado é redesenhado. Mais do que um técnico do Direito, o profissional passa a ser um gestor estratégico, analista de riscos e facilitador de decisões. Na prática, isso significa que ele deve desenvolver novas habilidades, como análise de dados, domínio de ferramentas digitais e pensamento inovador, que já se tornaram diferenciais competitivos essenciais para quem busca se destacar no mercado.
A advocacia do futuro será híbrida, combinando técnica jurídica, tecnologia e visão de negócios. Profissionais que souberem interpretar essas mudanças, adotar as inovações com sabedoria e se posicionar de forma estratégica serão mais relevantes e eficientes. Em vez de resistir, é hora de enxergar as transformações como uma oportunidade de evolução.