Por David Braga, CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent.
Em um cenário corporativo cada vez mais competitivo, promover um ambiente de trabalho saudável e acolhedor não é mais um diferencial; tornou-se uma questão de sobrevivência para as empresas. Diversos estudos reforçam a conexão direta entre bem-estar e desempenho: pesquisadores da Universidade de Oxford identificaram que colaboradores felizes são, em média, 13% mais produtivos, enquanto a Gallup aponta que organizações com alto engajamento alcançam até 21% mais lucratividade. O preço da negligência também é evidente — de acordo com o MIT Sloan, 57% das demissões voluntárias estão ligadas a culturas organizacionais tóxicas ou à falta de preparo das lideranças.
A atração de talentos também está diretamente conectada a essa agenda. Segundo a Deloitte, 86% dos millennials (nascidos entre 1981 e 1996) preferem trabalhar em empresas com culturas organizacionais fortes, mesmo que isso signifique receber salários mais baixos. Já dados do Glassdoor revelam que 70% dos candidatos consideram benefícios não financeiros como fator decisivo antes de aceitar uma vaga.
O tema é urgente. O Brasil é o segundo país com mais casos de burnout no mundo, ficando atrás apenas do Japão, e lidera o ranking global de ansiedade, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Diante desse cenário, investir em saúde mental deixou de ser uma escolha e passou a ser uma obrigação estratégica — o que, inclusive, justifica a existência e a atualização da NR-1, que reforça a importância de promover ambientes psicologicamente seguros nas organizações.
Iniciativas como espaços de descompressão, que reduzem absenteísmo em 27%, segundo a Harvard Business Review ou arquitetura que estimule colaboração são apenas o começo. O segredo está na personalização: um estudo da McKinsey alerta que apenas 23% das empresas obtêm sucesso ao copiar práticas sem adaptá-las à sua realidade. E aqui o RH e as lideranças são essenciais, pois escutar os colaboradores, desde preferências por modelos híbridos até necessidades de flexibilidade é essencial para evitar ações desconectadas da rotina real.
É fundamental reconhecer que Diversidade, Equidade, Inclusão e Acessibilidade (DEIA) deixaram de ser pautas secundárias no ambiente corporativo. Em um cenário cada vez mais composto por equipes multigeracionais e multiculturais, torna-se indispensável investir em ações específicas — desde capacitações até dinâmicas que promovam o fortalecimento de vínculos.
A flexibilidade também se mostra crucial: modelos com horários adaptáveis e home office, quando aplicáveis, podem reduzir o turnover em até 31%, segundo o relatório LinkedIn Global Talent Trends. Ignorar essas demandas é abrir espaço para que profissionais talentosos migrem para empresas mais ágeis e sintonizadas com as transformações do mercado.
Por outro lado, é preciso cautela para não cair na armadilha das chamadas “modinhas corporativas”. Mesas de pingue-pongue ou salas de jogos, por si só, não constroem uma cultura genuína de bem-estar. O equívoco está em acreditar que símbolos solucionam desafios estruturais. O caminho eficaz começa com um diagnóstico honesto: qual é o nível de estresse da equipe? Quais são os entraves à produtividade? Sem respostas claras, qualquer iniciativa corre o risco de se tornar um custo sem retorno. Por isso, a escuta ativa da liderança não é apenas desejável — é essencial.
Empresas que entendem o bem-estar como parte do business, certamente colhem frutos tangíveis, desde redução de custos com turnover até reputação como empregadoras de escolha. Não se trata de oferecer benefícios da modinha, mas de criar ecossistemas onde pessoas e negócios possam florescer. Como resume Amy Edmondson, de Harvard: “Culturas psicologicamente seguras não são um custo. São o alicerce da inovação e do crescimento sustentável”. A pergunta que fica é: sua organização está construindo esse alicerce e seu RH, juntamente com as suas lideranças possuem repertório para estes novos tempos?