Por Rico Araujo, CEO da PX/Brasil.
A Inteligência Artificial entrou de vez no cotidiano das empresas e dos profissionais, despertando tanto fascínio quanto receio. Ferramentas que antes exigiam equipes inteiras, prazos longos e altos investimentos hoje operam em segundos, a baixo custo e com escalabilidade quase infinita. No marketing, a transformação é particularmente visível. Da geração de imagens e vídeos à análise preditiva de comportamento do consumidor, tudo acontece de forma mais rápida, acessível e automatizável.
Isso não significa, como muitos temem, que a IA tenha vindo para substituir as pessoas. O que está em curso é uma redistribuição de papéis, acelerada, sim, mas já vivida em outras revoluções tecnológicas. Segundo dados e análises da Gupy, publicados no relatório de empregabilidade (2024), houve um aumento de 306% na busca das empresas por profissionais com conhecimento em IA. De acordo com o relatório, a expectativa é que os talentos tenham a capacidade de se adaptar a essas tecnologias emergentes, fazendo com que haja um aumento da procura por profissionais especializados em IA.
É interessante observar que, em poucos anos, passamos silenciosamente por uma nova revolução industrial, impulsionada pela integração da Inteligência Artificial ao cotidiano das pessoas, especialmente com o avanço da chamada GenIA, a Inteligência Artificial Generativa. Durante a pandemia de covid-19, muitos negócios foram obrigados a se digitalizar e muitas pessoas se tornaram usuárias assíduas de serviços baseados em aplicativos. A inteligência artificial generativa não estava prevista nem fazia parte das pautas de transformação que dominavam os debates sobre evolução tecnológica. Tudo mudou.
A história do trabalho sempre foi marcada por transições. Telefonistas, datilógrafas, acendedores de lampiões e motorneiros de bonde, por exemplo, foram assumindo novos papéis não por serem vítimas de uma ameaça, mas porque a sociedade evoluiu para novos modos de operar. A diferença agora está na velocidade e na escala da transformação. A IA não apenas automatiza tarefas repetitivas, mas começa a impactar áreas que exigem julgamento, repertório e criatividade, o que torna o desafio ainda mais complexo.
Não é realista afirmar que todos conseguirão acompanhar esse ritmo. A seleção passa a depender cada vez mais de conhecimento, adaptabilidade e da capacidade de aplicar criticamente as ferramentas disponíveis. No marketing, por exemplo, a Inteligência Artificial já redefine rotinas inteiras. Profissionais ganharam agilidade em diferentes camadas do processo. A IA permite testes de campanha em ritmo acelerado, personalização de mensagens em tempo real, construção de jornadas omnichannel baseadas em dados comportamentais, criação de imagens, produção de vídeos e cruzamento de dados para a tomada de decisão.
Tudo isso acontece em frações de segundo. No entanto, quanto mais poderosas forem as ferramentas, mais essencial se torna a inteligência humana por trás delas. Ter acesso à tecnologia não basta se não houver habilidade para utilizá-la com propósito. A Nestlé é um bom exemplo de como unir inovação e capacitação. A empresa lançou a sua primeira plataforma de treinamento que integra realidade virtual e inteligência artificial. A ferramenta, chamada Nesverso, simula de forma realista o ambiente de fábrica e adapta os desafios de aprendizagem de acordo com o desempenho de cada colaborador, tornando o processo mais eficaz e alinhado às competências exigidas.
Por isso, o protagonismo individual se torna determinante. Quem optar por observar a transformação à distância corre o risco de ficar para trás. Por outro lado, aqueles que decidirem experimentar, errar, aprender e se atualizar ainda têm a chance de ocupar espaços estratégicos nesse novo ecossistema. Profissionais de marketing que sabem integrar a IA à tomada de decisão e ao planejamento, e não apenas operá-la tecnicamente, tendem a se destacar.
No fim das contas, o debate sobre Inteligência Artificial não trata de substituição, mas de transição. De um marketing operacional para um marketing mais inteligente. De um profissional executor para alguém que orquestra, conecta e transforma tecnologia em valor real. Quem entender isso primeiro terá não apenas uma vantagem competitiva, mas a oportunidade de moldar o futuro em vez de apenas reagir a ele.