Por Edu Schuler, CEO da Smart Consultoria.
Por décadas, o roteiro considerado seguro para a vida adulta foi praticamente imutável: estudar, conseguir um bom emprego, subir na carreira e se aposentar com estabilidade. Esse caminho, visto como sinônimo de segurança, moldou gerações e ainda orienta muitas decisões. No entanto, em um cenário econômico, social e tecnológico em constante transformação, cresce o número de pessoas que questiona se esse modelo realmente conduz à liberdade e realização pessoal. O avanço do empreendedorismo no Brasil é um reflexo claro dessa mudança de mentalidade.
Segundo dados do relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2024), 33,4% da população adulta brasileira está envolvida com algum negócio, o que representa mais de 47 milhões de pessoas. O país saltou do 8º para o 6º lugar no ranking global de empreendedorismo estabelecido, ultrapassando economias tradicionais Reino Unido, de acordo com o Centro de Economia e Pesquisa de Negócios. A motivação também mudou, se antes abrir um negócio era, para muitos, uma necessidade diante da falta de empregos, hoje a principal razão é a busca por oportunidade e propósito.
A ideia de ser “dono” deixou de estar restrita à posse de uma empresa e passou a significar tomar as rédeas da própria trajetória. Essa transição reflete um desejo crescente de romper com o “modo automático” de viver. A rotina previsível, embora confortável, pode se tornar uma prisão silenciosa, especialmente para quem sente que suas ambições e talentos não encontram espaço no formato tradicional de trabalho. Empreender, surge como uma alternativa para criar um caminho próprio, com liberdade para decidir prioridades e moldar o dia a dia de acordo com valores pessoais.
O perfil dos novos empreendedores no Brasil aponta mudanças significativas no cenário econômico e no comportamento profissional. De acordo com um levantamento realizado pela Hibou Pesquisa e Insights, aproximadamente 33% dos trabalhadores brasileiros com idades entre 16 e 34 anos pretendem abrir o próprio negócio nos próximos anos. Esse dado revela o crescimento do interesse pelo empreendedorismo entre os jovens e também uma tendência de busca por autonomia profissional e novas oportunidades de geração de renda.
Outro fator que impulsiona esse movimento é a digitalização, onde modelos baseados em infoprodutos, mentorias, lojas virtuais e serviços de inteligência artificial ampliam o alcance e reduzem barreiras de entrada. Esse ecossistema digital permite que empreendedores atuem em escala nacional e até internacional com custos operacionais relativamente baixos, o que seria impensável há poucos anos.
Mas, apesar das oportunidades, empreender está longe de ser um caminho isento de riscos. As altas taxas de mortalidade de empresas, a instabilidade econômica e a necessidade de competências múltiplas, da gestão financeira ao marketing digital, exigem preparo e resiliência. A narrativa romântica do empreendedorismo como passaporte automático para a liberdade financeira precisa ser equilibrada com a realidade de que o sucesso depende de planejamento, disciplina e adaptação constante.
Ao desafiar o roteiro tradicional, o empreendedorismo oferece a possibilidade de construir uma vida mais alinhada com desejos e valores próprios. Para alguns, isso significará abrir uma empresa inovadora, para outros, desenvolver um projeto paralelo que ganhe escala, e, para muitos, simplesmente viver com mais autonomia sobre como e onde trabalhar. Em todos os casos, a provocação permanece, em que seguir no caminho confortável pode parecer seguro, mas talvez o maior risco seja nunca descobrir o que a coragem de mudar poderia ter proporcionado.