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Red flags: o que há em comum entre um primeiro encontro e autenticação digital?

Foto: divulgação

Por Leandro Roosevelt, diretor de vendas Brasil da VU.

Reconhecer sinais de alerta é uma habilidade que vale tanto para a vida pessoal quanto para a segurança corporativa. Como exemplo, podemos citar as red flags – ou sinais de alerta – de um primeiro encontro desastroso com as tentativas de fraude de identidade digital.

Enquanto em um primeiro encontro pequenas atitudes — como falar apenas de si, desrespeitar o garçom ou insistir em ultrapassar limites — já indicam que algo não vai bem, no ambiente digital as fraudes de identidade seguem a mesma lógica: um e-mail “quase igual”, um login em horário incomum ou uma mudança brusca de comportamento são pistas de que há algo errado.

No Brasil, os números falam por si: segundo o relatório da ClearSale, foram identificadas no País, em 2024, 2,8 milhões de tentativas de fraude no e-commerce brasileiro, com um valor potencialmente perdido de R$ 3 bilhões para os consumidores.

E um dos dados levantados pelo estudo chama a atenção: a maior parte das tentativas de fraude ocorreram em horário insólito, às três da manhã – próximo ao horário em que ocorreu o maior ataque hacker da história do País, quando cerca de R$ 1 bilhão foram desviados das contas da empresa C&M Software, ligada ao Banco Central (BC).

Esse fato revela como os criminosos exploram justamente o que passa despercebido. E, curiosamente, o mesmo acontece em interações humanas. O problema quase nunca é a ausência de sinais, mas sim nossa falta de atenção a eles.

Semelhanças

Na fraude digital, um simples e-mail “quase igual” já denuncia a tentativa de phishing. Em um encontro, a versão comportamental desse detalhe pode ser a forma como a pessoa trata o garçom em um restaurante: ambos parecem pequenos, mas carregam muito sobre quem é, de fato, ao verdadeiro indivíduo por trás de quem você pensa que conhece.

Da mesma forma, acessos fora do horário habitual deveriam chamar a atenção de qualquer analista de segurança. Se alguém só trabalha em horário comercial, por que há logins no meio da madrugada? No campo pessoal, a analogia está no foco exclusivo em si mesmo — quando a outra pessoa fala apenas dela própria, sem se interessar minimamente por você. Em ambos os casos, trata-se de comportamento fora do esperado, que revela riscos futuros.

Outro sinal claro são as mudanças súbitas de comportamento. No ambiente digital, são pedidos de reset de senha em massa, alterações de permissões ou solicitações de dados sem justificativa. No mundo social, pode ser a pessoa que fala mal de ex-parceiros logo no primeiro encontro: algo desproporcional, que quebra a naturalidade da interação e levanta questionamentos sobre estabilidade emocional.

E há ainda as situações que simplesmente não fazem sentido. Se um sistema registra login em São Paulo e, minutos depois, em outra cidade, ou até país, a fraude é quase certa. É o equivalente, em termos de relacionamento, quando uma pessoa demonstra grande interesse durante o encontro, mas depois desaparece e não manda notícias, o chamado ghosting. A desconexão é tão grande que não há coerência — nem digital, nem afetiva.

Esse olhar atento não é uma questão de preciosismo, mas de sobrevivência. Uma pesquisa da empresa de análise de crédito TransUnion, mostra que 40% dos brasileiros já foram alvo de algum tipo de fraude digital, sendo que 10% chegaram a ser enganados, com prejuízos médios de R$ 6.311 por vítima.

Esses dados reforçam o óbvio: os sinais estão sempre lá. Mas, se não aprendermos a identificá-los — seja na análise de um login suspeito ou no comportamento de alguém em um encontro — acabamos pagando o preço.

Na prática, tanto na segurança digital quanto nas relações humanas, não existe “ataque surpresa” quando sabemos prestar atenção. As red flags podem ser sutis, mas estão sempre presentes: um caractere trocado no e-mail, um comportamento rude no restaurante, um login em horário incomum, uma conversa unilateral e desinteressada.

No mundo corporativo, a solução passa por combinar tecnologia, como autenticação multifator e análise comportamental, com a vigilância constante de equipes preparadas. Já no pessoal, a resposta é menos tecnológica, mas igualmente estratégica: atenção, respeito aos próprios limites e disposição para encerrar o que já mostra, desde cedo, que não tem futuro.

Em resumo, red flags ignoradas se transformam em problemas grandes. Na autenticação digital, geram prejuízo financeiro; na vida, causam desgaste emocional. A diferença está em quem escolhe enxergá-las a tempo.

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