Pesquisar

Hubs de inovação e AgTechs: a ponte entre a fazenda e a alta tecnologia

Foto: divulgação.

Por Sidney Nobre, distinguished analyst da TGT ISG.

Tenho observado de perto, e muitas vezes no “olho do furacão”, a transformação que o agronegócio brasileiro vive no campo da tecnologia.

Não falo apenas de inovação reativa, mas de um movimento sistêmico, impulsionado por AgTechs cada vez mais sofisticadas e pela necessidade de encurtar o tempo entre a concepção de uma tecnologia e sua adoção em escala.

O Radar Agtech Brasil 2024 da Embrapa, em parceria com a Homo Ludens e a SP Ventures, traz números expressivos: o número de incubadoras voltadas ao agro saltou 224% em um ano.

Mas, para mim, mais relevante que o número em si é o que ele simboliza: a urgência de integrar ciência, dados e gestão em um modelo que permita respostas rápidas a um setor que não pode esperar.

O agronegócio cresce entre 20% e 25% ao ano, mas os meios pelos quais a tecnologia chega ao campo e à indústria ainda não acompanham essa velocidade. O ciclo de maturação é mais lento para um setor no qual o Brasil precisa crescer, para aproveitar a crescente demanda global por alimentos.

Hoje, por exemplo, iniciativas que utilizam drones de monitoramento são interessantes, mas já estão entrando em uma nova fase de evolução, em que satélites de baixa órbita conseguem entregar informações quase em tempo real.

O problema é que a adoção dessas tecnologias esbarra no custo, na disponibilidade de integradores, na infraestrutura e na falta de modelos comerciais flexíveis.

É por isso que defendo a lógica da tecnologia como serviço. Não faz sentido um produtor comprar 40 drones; ele precisa de um serviço que entrega dados precisos em tempo hábil para a tomada de decisão.

É aí que os hubs de inovação entram como protagonistas, alugando e integrando soluções avançadas de imagens de satélite a inteligência artificial para análise preditiva num modelo sob demanda.

Nos próximos três anos, vejo três eixos críticos. O primeiro é a conectividade total: com o 5G em larga escala, o 6G com protocolos abertos e em fase de testes em campo, redes mais universais poderão ampliar a cobertura rural e integrar tecnologias de monitoramento e gestão.

O segundo é a rastreabilidade como serviço: assim como o cartão com uso de chip revolucionou os meios de pagamentos, surgirão plataformas que permitirão a qualquer produtor alugar soluções completas de rastreamento da cadeia produtiva. Neste caso, o blockchain no agronegócio será um impulsionador da segurança e da rastreabilidade.

O terceiro é a consolidação tecnológica: grandes players, de consultorias globais a cooperativas, devem adquirir ou integrar startups para acelerar a oferta de serviços.

Mapeando o ecossistema de agribusiness no último ISG Provider Lens, pude ver que a força dos hubs tecnológicos não está apenas na infraestrutura, mas na capacidade de criar pontes: entregar inovação de ponta a quem realmente precisa dela.

Eles reduzem a distância entre uma startup de garagem e uma multinacional do agro, democratizando o acesso à tecnologia de alto impacto.

Essa dinâmica tem um efeito colateral positivo: amplia o número de fornecedores relevantes no mercado, fugindo do oligopólio de grandes players. Cria-se uma comunidade de “early adopters” mais diversa, capaz de testar, ajustar e escalar soluções de forma mais ágil.

O agronegócio brasileiro está diante de uma encruzilhada: ou acelera a incorporação de tecnologias no mesmo ritmo em que cresce a demanda global por alimentos, ou verá oportunidades e mercados escaparem para concorrentes mais produtivos, menos custosos e mais ágeis.

Como analista desse setor, vejo com clareza que não se trata apenas de “ter” tecnologia, mas de acessá-la no momento e no formato certos.

A nova fronteira é integrar campo, dados, conectividade e serviços em um ciclo contínuo de atualização tecnológica. E, para isso, precisaremos de hubs mais fortes, fornecedores mais ágeis e, acima de tudo, a coragem de investir antes que a necessidade se torne urgência.

Compartilhe

Leia também