Por Helena Fragomeni, CEO da Hands-on.
A inteligência artificial está transformando tudo, inclusive a velocidade com que o conhecimento envelhece. O que antes era útil por uma década, hoje pode se tornar irrelevante em dois anos. Isso exige uma mudança urgente: o ato de aprender precisa deixar de ser um evento pontual para se tornar um hábito diário.
Dessa forma, temos um impasse: muitas empresas ainda não perceberam isso. Segundo pesquisa da EF Corporate Learning, organizações com programas de educação bem estruturados alcançam 92% de engajamento dos colaboradores, contra apenas 38% nas que tratam o tema de forma superficial. Não por acaso, essas mesmas empresas viram um salto de 91% na força de trabalho.
Esses números não são coincidência. Eles revelam o que tenho observado nos últimos 20 anos atuando com educação corporativa: o conhecimento técnico está perdendo sua validade mais rápido do que nunca. E isso muda tudo.
Um dos maiores erros que vejo nas empresas é acreditar que oferecer uma plataforma de cursos já resolve o desafio da aprendizagem. Não resolve. Ter centenas de treinamentos disponíveis não garante que as pessoas aprendam de verdade. Sem estratégia, a simples oferta de conteúdo pode até gerar o efeito contrário: excesso de opções, baixa adesão e resultados pouco efetivos.
O verdadeiro diferencial está em integrar o desenvolvimento ao dia a dia de trabalho. Quando o aprendizado acontece de forma desconectada da prática, ele perde relevância e, muitas vezes, é rapidamente esquecido. É preciso criar condições para que o conhecimento faça sentido dentro da rotina, contribuindo diretamente com os desafios que cada equipe enfrenta em sua realidade.
Acredito que, para isso, três elementos são essenciais: contexto, curadoria e personalização. O conteúdo precisa estar conectado ao momento da jornada do colaborador. Opções em excesso, sem direcionamento, dificultam a absorção, enquanto uma curadoria estratégica facilita o engajamento. E, por fim, cada pessoa aprende de um jeito — e a tecnologia pode ser uma grande aliada para respeitar essa individualidade e tornar o processo mais efetivo.
Se tempo é escasso, a aprendizagem precisa ser ágil
Algo que tenho certeza é que a inovação não dá pausa. Então, se antes era possível parar tudo para “fazer um curso”, hoje esse modelo é inviável. A formação contínua precisa ser ágil, objetiva e conectada aos desafios reais do negócio.
É nesse contexto que duas abordagens ganham força: o Microlearning, com módulos curtos de até 15 minutos e o Nano Learning, com pílulas de conteúdo que cabem no ritmo da rotina. Além disso, upskilling (aprimoramento) e reskilling (requalificação) tornaram-se vitais para manter a competitividade — e, quando aliados à IA, permitem construir trilhas de aprendizado sob medida. A personalização deixou de ser luxo e passou a ser estratégia.
Sem liderança, a cultura não se sustenta
Embora a área de RH seja responsável por estruturar as estratégias de aprendizagem, são os líderes que determinam se isso vai acontecer ou não na prática. Quando eles se envolvem, aprendem junto e reconhecem o esforço das equipes, o desenvolvimento se torna legítimo e a cultura floresce.
Não estou mais falando de um “benefício”. A cultura de aprendizado passou a ser uma necessidade básica para a sobrevivência das organizações. E uma dica que dou para quem quer aprender: Pare de tentar aprender tudo! Foque no que te aproxima do seu próximo objetivo. Aprender com propósito, de forma contínua e personalizada, é o que vai te manter relevante. No mercado e na vida.