Por Paulo Motta, fundador da The Networkers.
Nos últimos anos, o discurso sobre inovação no Brasil tem sido utilizado com uma narrativa que o reduz à ideia de que inovar significa apenas criar um aplicativo.
Basta surgir uma interface colorida, um discurso ou promessa de “revolucionar o mercado”, que muitos já correm para carimbar a etiqueta de “startup inovadora”.
Mas a realidade é bem menos glamurosa e muito mais dura: inovação não é tecnologia pela tecnologia, mas sim resolver um problema de verdade.
Aprendi isso não em palestras ou em laboratórios de pesquisa, mas no chão da operação, enfrentando gargalos de clientes e parceiros, redesenhando processos e descobrindo que a verdadeira inovação está naquilo que gera impactos expressivos.
Não importa se é uma solução analógica ou digital, simples ou sofisticada: o que vale é que ela elimine uma dor real, crie eficiência e, sobretudo, gere margem.
Dados recentes reforçam essa questão. Segundo a FGV, em sua Pesquisa Anual do Uso de TI (2025), as empresas com maior grau de digitalização apresentam, em média, 18% mais lucratividade do que as menos digitalizadas, número que comprova como a tecnologia pode sim, gerar retorno, desde que usada para aumentar eficiência e reduzir custos.
Já o Sebrae revelou que 47% dos pequenos negócios brasileiros que adotaram aplicativos ou softwares integrativos para gestão, mostraram um avanço que ainda não se traduz em resultados financeiros, justamente porque nem todo app resolve o problema central do negócio.
Uma marca não sobrevive de “likes” ou downloads. Ele sobrevive de caixa. Um aplicativo pode ser útil, mas se não resolver o problema central do cliente de maneira mais barata, rápida ou eficiente do que as alternativas, ele não passa de um enfeite.
A obsessão por tecnologia, muitas vezes, esconde a falta de foco no essencial: entender profundamente o problema, redesenhar o modelo de entrega e conhecer mais profundamente seu público.
É preciso desromantizar a inovação. Não é sobre ser “disruptivo” a qualquer preço, nem sobre buscar o próximo unicórnio. É sobre construir negócios sólidos, humanos, capazes de crescer com consistência e gerar valor real para quem paga a conta. Quem confunde inovação com moda corre o risco de criar empresas frágeis e incapazes de gerar resultado a longo prazo.
Inovar, para mim, é a arte de enxergar problemas que os outros ignoram e transformá-los em soluções. Essa é a única equação que importa, porque no final do dia é ela que mantém a empresa viva, gera empregos e promove desenvolvimento. E isso é muito mais transformador.