Por Eduarda Camargo, CGO da Portão 3 (P3).
A lista Forbes 400 dos americanos mais ricos revela mais do que números: expõe de forma crua a persistência da desigualdade de gênero na economia americana.
Este ano, pela primeira vez desde 2019, a presença feminina não cresceu, pelo contrário, caiu de 67 para 62 mulheres, apenas 15,5% do total.
É um recuo que não pode ser ignorado, pois evidencia que a entrada das mulheres nos patamares mais altos de riqueza continua limitada, apesar do crescimento econômico e do avanço em setores antes dominados por homens.
O fenômeno não é apenas simbólico. Ele reflete estruturas de capital, redes de influência e práticas históricas que favorecem homens.
Setores como tecnologia, finanças e indústria seguem sendo áreas de acúmulo desproporcional de riqueza masculina. O resultado é que, mesmo em um contexto de maior diversidade e oportunidades, a concentração de capital mantém barreiras invisíveis para a maioria das mulheres.
Ao mesmo tempo, a análise dos números revela nuances importantes. Quase três quartos das mulheres que permanecem na lista aumentaram sua fortuna, de US$ 839 bilhões para US$ 872 bilhões. Isso indica que, quando mulheres conseguem romper barreiras, alcançam resultados significativos.
O problema é que a base de entrada continua estreita: poucas conseguem chegar ao topo, mantendo a desigualdade estrutural intacta. Ou seja, o sucesso feminino na elite econômica ainda depende de superação individual, não de mudanças sistêmicas.
Essa dinâmica evidencia fragilidades nas políticas de investimento e no acesso a capital. Programas de venture capital para mulheres e iniciativas de mentoria ajudam, mas não conseguem compensar décadas de vantagem acumulada por homens.
O mercado financeiro e o empresarial continuam operando sob redes de influência históricas que reproduzem padrões de exclusão.
Além disso, fatores culturais e sociais, desde expectativas de gênero até divisão desigual de responsabilidades domésticas, influenciam diretamente o ritmo com que mulheres conseguem escalar posições de riqueza.
Em termos estratégicos, a redução da presença feminina na Forbes 400 é um alerta: enquanto o crescimento da fortuna das mulheres já inseridas mostra potencial, ele não se traduz em equidade estrutural. A lista não apenas reflete riqueza, mas também acesso a oportunidades, poder e influência.
O desafio não é apenas individual, mas sistêmico: transformar vitórias isoladas em um ecossistema econômico que permita que mais mulheres acessem os maiores patamares de riqueza.
Até lá, a desigualdade de gênero na elite econômica continuará persistente, e a lista Forbes 400 seguirá sendo um termômetro da exclusão estrutural, mais do que do mérito absoluto.