Nas últimas décadas, o Brasil se acostumou a ocupar o posto de principal destino dos investimentos estrangeiros na América Latina. Mas o cenário mudou. O México vem conquistando espaço de forma consistente e, em 2024, registrou um fluxo recorde de US$ 36,8 bilhões em investimento estrangeiro direto (IED), ultrapassando o Brasil em alguns dos principais indicadores de atratividade.
Essa virada não aconteceu de um dia para o outro. Ela é resultado de um conjunto de fatores estruturais e conjunturais que colocaram o México na vitrine dos investidores globais, enquanto o Brasil segue enfrentando desafios antigos que ainda não foram superados.
Por que o México atrai mais capital?
A primeira explicação está na proximidade estratégica com os Estados Unidos. Em um momento de reconfiguração das cadeias globais de valor, com empresas buscando alternativas à Ásia, o México se tornou o grande beneficiado do movimento de nearshoring. O acesso preferencial ao mercado norte-americano, via Acordo Estados Unidos–México–Canadá (USMCA), fez com que gigantes da indústria automobilística, eletrônica e de tecnologia direcionassem suas plantas para o país.
Outro ponto é a estabilidade fiscal. Enquanto o Brasil convive com uma dívida pública que ultrapassa os 70% do PIB, o México mantém esse indicador abaixo de 50%. Isso reduz a percepção de risco e aumenta a confiança dos investidores internacionais.
Além disso, o governo mexicano tem apostado em políticas de incentivo mais diretas para setores estratégicos, como energia limpa e manufatura avançada, sinalizando clareza de prioridades.
E o Brasil?
O Brasil continua sendo um mercado enorme e cheio de oportunidades, mas esbarra em entraves conhecidos: burocracia excessiva, incerteza regulatória, infraestrutura deficiente e um sistema tributário complexo que ainda não encontrou seu ponto de equilíbrio.
Enquanto isso, os custos de financiamento seguem altos e os programas de incentivo se perdem em discussões políticas. O resultado é um ambiente menos competitivo quando comparado ao dinamismo oferecido pelo México.
O que está em jogo
A superação mexicana não é apenas um dado de ranking: é um alerta. Se o Brasil não avançar em reformas estruturais e não oferecer condições mais claras e estáveis para o capital externo, a tendência é que perca espaço em setores de alto valor agregado, justamente aqueles que poderiam acelerar a inovação, a geração de empregos e a integração do país nas cadeias globais.
Mais do que rivalizar com o México, a questão é entender que o fluxo de investimentos está cada vez mais seletivo. Empresas buscam não apenas tamanho de mercado, mas previsibilidade, competitividade e acesso a ecossistemas globais.
Reflexão final
O México mostrou que estratégia e estabilidade podem reverter posições históricas. O Brasil, por sua vez, ainda tem capital humano, mercado consumidor e potencial para atrair grandes volumes de investimento. Mas precisa transformar esse potencial em realidade.
A disputa não é apenas por números em um ranking — é pela capacidade de liderar a próxima fase de crescimento da América Latina.