Por Giovanna Gregori Pinto, executiva de RH e fundadora da People Leap.
Ao longo da minha trajetória em startups e empresas de crescimento acelerado, percebi que o papel do RH nunca foi apenas contratar, engajar ou reter talentos. Sempre foi orquestrar. Orquestrar pessoas, times, culturas, processos, expectativas e agora também tecnologias que transformam radicalmente o jeito como trabalhamos.
No mundo corporativo, é comum ver a inteligência artificial sendo usada para automatizar tarefas do dia a dia: responder dúvidas sobre benefícios, organizar feedbacks e buscar informações em diferentes sistemas. Isso ajuda, claro, mas o problema é que, muitas vezes, a IA é incorporada às organizações sem uma regência clara e uma estratégia sistêmica de uso.
O passo inicial acontece quando entendemos que o RH deve assumir as rédeas e reger o ecossistema de trabalho como um todo.
Isso significa dar três passos para trás, olhar de forma ampla o que temos disponível, compreender o que realmente precisamos e, só então, desenhar como cada recurso deve contribuir para os resultados.
A partir desse momento, fica mais claro que pessoas são insubstituíveis na construção de cultura e em papéis críticos de longo prazo, terceiros e temporários são fundamentais para picos de demanda e projetos específicos, parceiros e comunidades trazem inovação e aceleram acesso a novas competências, e a IA, especialmente em suas formas mais avançadas, amplia escala, garante disponibilidade contínua e conecta dados de forma integrada.
Quando liderei a expansão do time de tecnologia do iFood, que cresceu de 150 para mil pessoas em quatro anos, aprendi que nenhum resultado é possível sem pensar sistemicamente.
Da mesma forma, na AB InBev (Ambev), quando triplicamos o time e aumentamos engajamento em dois dígitos, ficou evidente que RH estratégico é o que enxerga além das fronteiras do contrato de trabalho. É o que compreende que cada peça, seja humano, parceiro ou máquina, tem um papel na criação de valor.
O RH é o departamento responsável por primeiro entender a inteligência artificial e só depois aplicá-la como uma ferramenta de uso diário na empresa, pois ela não substitui a melodia humana, apenas amplia a potência da orquestra.
É um instrumento novo, que exige responsabilidade no uso de dados, ética nas decisões e clareza sobre limites. Mas, se bem integrado, pode transformar a forma como as organizações se estruturam e se adaptam.
A adoção de IA como agente deve crescer 327% nos próximos dois anos, com ganhos de produtividade estimados em 30%, segundo a Salesforce.
Já a familiaridade com ferramentas de IA é quase universal: 94% dos funcionários e 99% dos C-levels relatam algum nível de conhecimento sobre IA generativa, ainda que os gestores subestimem seu uso real, de acordo com estudo da McKinsey & Company.
O futuro do RH não está em simplesmente “usar AI”. Isso já é uma obrigação. O futuro está em ser maestro desse ecossistema vivo e dinâmico, em que pessoas, parceiros e tecnologia tocam juntos, em harmonia, uma sinfonia voltada a resultados, inovação e, acima de tudo, impacto humano.
Se o RH se limitar a ser apenas usuário de AI, será mais um espectador da mudança. Mas se assumir o papel de maestro, será protagonista da transformação.