Por Elis Rosa, gestora do Prêmio Inovativos.
Qual a primeira coisa que vem na sua mente quando pensa em aprender com a concorrência? Para a maioria, a resposta envolve evitar os mesmos buracos em que outras empresas caíram. Mas, e se mudarmos a perspectiva? E se o foco estiver em aprender com os acertos? Inspirar-se em boas práticas que deram resultado pode ser uma das formas mais poderosas de acelerar inovação, gerar impacto e reduzir riscos.
Durante anos, consolidou-se a premissa de “errar e corrigir rápido”. Em uma comparação, é como se fosse um treinador que prepara seus atletas, unicamente, assistindo a vídeos de times que perderam, focando em cada passe errado, em cada defesa falha e em cada decisão equivocada. No mundo dos negócios, essa mentalidade é muito presente, com empresas obcecadas em aprender com os erros dos outros, como se evitar desastres fosse o único caminho para a excelência.
Porém, em um estudo publicado na revista científica MDPI em que analisou fatores críticos para o crescimento de startups, foi identificado que os principais pontos determinantes de sucesso não estavam apenas em corrigir falhas, mas em aspectos positivos como: as ideias (considerada a variável mais importante para prever o sucesso de uma startup); liderança do CEO (reforçando a capacidade de execução, visão estratégica e decisões do líder como cruciais para o sucesso) e modelo de negócios (no qual a forma como a empresa gera receita e valor é o terceiro fator mais relevante).
E por que isso importa? Porque acertos encurtam caminhos. Ao se inspirar em boas práticas de outras organizações, é possível economizar tempo e recursos no planejamento estratégico, direcionando os times a inovarem a partir de táticas já testadas, adaptadas à realidade e aos objetivos da empresa.
Além de reduzir riscos que podem comprometer operações, esse movimento gera eficiência comprovada: outro estudo da McKinsey mostra que duas em cada três organizações redesenharam seus modelos operacionais nos últimos dois anos, conquistando ganhos entre 10% e 30% em eficiência, desempenho, satisfação de clientes e engajamento de colaboradores.
A confiança e a reputação são consequências diretas desse processo. Segundo o Edelman Trust Barometer 2024, 71% dos clientes compram de empresas em que confiam, 69% recomendam essas marcas e 42% chegam a defendê-las publicamente em momentos de crise. Ou seja, aprender com os acertos e transformá-los em cultura e prática fortalece também a relação com consumidores.
No ambiente interno, os efeitos são igualmente relevantes. O Great Place to Work 2023 mostra que empresas reconhecidas em rankings de gestão de pessoas apresentam 50% menos turnover, recebem três vezes mais candidatos por vaga e têm até seis vezes mais engajamento. Reconhecimentos não são apenas marketing: são ativos estratégicos para atrair, reter talentos e construir times de alta performance.
É importante destacar que aprender com os acertos não significa copiar. O valor está em adaptar, aproveitando boas práticas de forma crítica. Cada empresa tem cultura, contexto e objetivos próprios. A inspiração precisa ser crítica, traduzindo boas práticas em ações alinhadas ao seu negócio. É um benchmark inteligente, como um ecossistema onde organizações crescem juntas, sofisticando o mercado e ampliando a inovação.
Quem inspira, vira referência. Precisamos dessa maior maturidade na forma de enxergar as operações, e o quanto que cada um de nós pode contribuir para o crescimento de outras empresas, melhorando toda a economia e inovação nacional.
Mas, para transformar discurso em prática, é preciso método: criar comitês internos de análise, mapear dores e oportunidades, traduzir práticas externas para a realidade local e filtrar o que realmente faz sentido adotar. Nesse processo, a inteligência artificial surge como aliada para análises preditivas, ajudando a evitar investimentos em iniciativas que não trarão os resultados esperados
Lembre-se, não é porque uma boa ideia deu certo em outra organização, que trará os mesmos resultados para a sua. Não precisamos mais focar nos erros dos outros para agir melhor. Podemos, ao invés disso, nos basear no que alavancou os resultados de outros negócios, em seus acertos, para que as outras empresas também possam acertar. Afinal, o sucesso não é a ausência de fracasso, mas a presença de boas decisões que aprendam com os erros e busquem caminhos melhores.
Acertos criam atalhos, reduzem riscos e constroem legados. E, quando compartilhados, fortalecem todo o ecossistema de negócios.