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O vício que virou rotina: como as telas tomaram o nosso tempo

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Foto: divulgação
Foto: divulgação

Talvez não seja só uma sensação. Talvez seja o sintoma de um tempo em que o vício em telas se tornou o novo normal, é … silencioso, aceito e até incentivado.

Vivemos hoje em uma sociedade onde o celular é a primeira coisa que tocamos ao acordar e a última antes de dormir. Onde o tempo de descanso é medido em episódios em alguma plataforma de vídeos e não em horas de sono. Onde o silêncio incomoda, e a ausência de notificações parece sinal de que algo está errado.

Mas já parou para pensar como isso se tornou tão comum?

Imagine a seguinte cena: um casal em um restaurante, lado a lado, mas cada um com os olhos fixos na sua tela. Estão juntos, mas não estão ali. Ou pense naquela criança pequena, que antes brincava com blocos coloridos, agora hipnotizada por vídeos no tablet enquanto os pais tentam ganhar alguns minutos de paz, que cá entre nós, nunca é alcançada pois também é invadida por alertas de e-mails, grupos do WhatsApp, redes sociais, aplicativos de entrega e uma enxurrada de estímulos infinitos.

Não é exagero dizer que estamos doentes. Mas essa doença é silenciosa, não aparece em exames de sangue e, muitas vezes, é confundida com produtividade, agilidade e modernidade. Estar conectado e pronto para alguma tarefa online é quase tão importante quanto respirar.

A compulsão por telas é real. E não escolhe idade, profissão ou classe social.

Segundo a Fundação Getúlio Vargas, o Brasil já tem mais celulares ativos do que habitantes. São mais de 249 milhões de aparelhos em funcionamento, vale lembrar que em muitos casos uma pessoa tem até mais de um aparelho. E se fosse só quantidade, tudo bem. Mas é o tempo e a forma como usamos esses dispositivos que nos preocupam.

Estudos recentes mostram que o uso excessivo de telas está associado à ansiedade, insônia, fadiga mental, miopia, sedentarismo e até sintomas de depressão. Crianças apresentam atrasos no desenvolvimento da linguagem e dificuldade de se concentrar. Adultos têm relações mais rasas, foco fragmentado e um cansaço constante que não se resolve com descanso. Porque não é só físico, é mental, é emocional, é existencial. Já parou para pensar que quando estamos imersos em uma tela, mesmo que presente não existimos naquele local?

Estamos hiperconectados e, ao mesmo tempo, profundamente desconectados.

Mas este artigo não é um manifesto contra a tecnologia. Ao contrário. A tecnologia é incrível, necessária e inevitável. Ela aproxima, facilita, ensina, transforma. O problema está no desequilíbrio. Não uso sem intenção. No excesso que esvazia. Falo com frequencia em minhas palestras que a tecnologia precisa ser propositiva. Nós precisamos usar a tecnologia e não o contrário. Se você não paga, você é o produto, e se não paga com dinheiro, paga com tempo, que se mal administrado, nos adoece.

É por isso que estou aqui. Para abrir espaço para uma nova conversa, urgente e necessária.

A partir desta coluna, quero convidar você, leitor do EconomiaSP, a mergulhar comigo nos impactos invisíveis do mundo digital em nossas vidas pessoais, profissionais e sociais. Vamos falar sobre o vício em telas com clareza, mas também com empatia. Trazer dados, sim, mas também histórias reais, provocações e caminhos possíveis.

Vamos entender o que está por trás do vício digital. Como a economia da atenção trabalha para nos manter conectados o tempo todo. O que isso causa no cérebro, no corpo, nas relações. E, mais importante: o que podemos fazer para retomar o controle, sem precisar largar tudo e fugir para as montanhas, apesar dessa opção ser muito convidativa. 

Meu nome é Bruno Gurgel. Depois de muitos anos imerso no universo da tecnologia e da inovação, passei por uma virada pessoal que me levou a estudar profundamente os efeitos da vida hiperconectada, já fui viciado em telas. Hoje, através da EquilibriON, dedico meu tempo a construir pontes entre o digital e o humano e assim mostrar que é possível viver bem em um mundo cheio de telas, desde que saibamos quando é hora de desligá-las.

A cada nova edição, esta coluna será um convite para respirar, refletir e reconectar com o que realmente importa. Você!

Você vem comigo?

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empreendedor, CEO da EquilibriON e especialista em bem-estar digital.

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