Enquanto muitas marcas ainda tratam collab como uma ação pontual de marketing, a Havaianas entendeu que colaboração é estratégia. E mais do que isso, entendeu que é cultura. Ao longo dos últimos anos, a marca brasileira vem transformando parcerias criativas em um dos pilares mais consistentes de crescimento, reposicionamento e diferenciação. Em vez de usar collabs como distração de campanha, a Havaianas as usa como ferramenta para expandir significado, influência e mercado.
Cada colaboração é uma forma de traduzir a marca sob novas lentes sem perder a essência. Quando se une à Dolce & Gabbana, o objetivo não é entrar no luxo, mas dialogar com ele. O encontro entre o design artesanal italiano e a leveza tropical brasileira cria um híbrido que amplia o alcance da Havaianas sem alterar seu DNA. Quando traz Gigi Hadid como diretora criativa convidada, a intenção não é adicionar glamour, e sim validar o lifestyle global que a marca já representa. E quando aposta na parceria com a Zellerfeld e lança um modelo impresso em 3D, o gesto não é apenas tecnológico, é simbólico: mostra que inovação e tradição podem coexistir em um mesmo produto.
Essas parcerias não são coincidência. São capítulos de uma narrativa cuidadosamente construída. A Havaianas aprendeu que a collab certa tem o poder de gerar expansão orgânica, atingir novos públicos e reposicionar percepções sem grandes investimentos em mídia. Ela funciona como um atalho de branding, mas um atalho inteligente, porque se baseia em afinidade de propósito, não em conveniência de pauta. É uma maneira de fazer com que o mundo olhe para a marca brasileira e enxergue muito mais do que chinelos.
A partir de 2024, a Alpargatas começou a colher resultados concretos dessa estratégia. No segundo trimestre de 2025, a empresa registrou lucro líquido de 87 milhões de reais, um crescimento de mais de 270 por cento em relação ao mesmo período do ano anterior. Foram mais de 49 milhões de pares vendidos globalmente, com crescimento de 6 por cento na Europa e 30 por cento nos Estados Unidos. O digital direto ao consumidor teve avanço superior a 30 por cento em países europeus, reforçando que a expansão internacional da Havaianas está sustentada por desejo e consistência de marca.
Esses números mostram algo que vai além de performance financeira. Revelam o poder de uma marca que entendeu o valor de fazer branding com inteligência cultural. A Havaianas não tenta se tornar outra coisa. Ela apenas amplia a forma como o mundo a percebe. É a mesma marca que calça brasileiros há décadas, agora presente em editoriais de moda, vitrines premium e colaborações de alto prestígio, sem precisar mudar de linguagem.
A força dessa estratégia está em tratar collab como instrumento de diferenciação. No mercado saturado por marcas que repetem fórmulas, a Havaianas inova pelo olhar. Ela não precisa reinventar o produto, mas o contexto em que ele existe. É o mesmo chinelo, mas com novos significados. Cada parceria serve como espelho para um público diferente, sem que a marca perca coerência. Esse é o tipo de branding que gera longevidade, porque constrói percepção sem precisar destruir o passado.
Existe também um componente cultural que torna esse movimento ainda mais relevante. A Havaianas está exportando um pedaço da identidade brasileira com sofisticação e leveza. Suas collabs mostram que o Brasil pode ser, ao mesmo tempo, tropical e estratégico, criativo e disciplinado, leve e global. Ao lado de marcas como a FARM, que também transformam estética e comportamento em diferencial competitivo, a Havaianas ajuda a reposicionar o design nacional como potência de influência e não apenas como tendência exótica. É um discurso de protagonismo: o Brasil deixa de ser o país que produz para os outros e passa a ser o país que inspira os outros.
O mais interessante é que nada disso parece forçado. A Havaianas mantém autenticidade mesmo quando transita entre mundos opostos. Ela pode estar nos pés de um turista em Copacabana e de uma modelo em Milão sem soar incoerente. Essa capacidade de ser múltipla é o verdadeiro ativo da marca. E talvez o maior aprendizado que outras empresas possam tirar do case.
A collab, quando usada com consciência, é um convite à evolução. Mas quando usada sem propósito, é só barulho. Muitas marcas se encantam com a visibilidade instantânea e esquecem que toda parceria precisa reforçar o que já existe de verdadeiro. Quando não há essência, o resultado é uma soma de vazios: duas marcas que se unem e perdem identidade juntas. A Havaianas faz o contrário. Ela empresta seu capital simbólico para quem soma valor e, em troca, ganha novos territórios culturais. Essa é a diferença entre colaboração e oportunismo.
O que a marca construiu não é apenas um pipeline de produtos em parceria. É um ecossistema de significado. Cada nova collab é planejada como parte de uma narrativa maior, que conecta consumo, design e comportamento. Essa coerência explica por que, mesmo com a entrada de novos competidores e mudanças de hábito do consumidor, a Havaianas continua sendo sinônimo de brasilidade, liberdade e design inteligente.
No fim, o que esse case mostra é que branding não é sobre o que a marca diz, é sobre o que ela faz com consistência. Collabs, quando feitas com propósito, são um gesto de generosidade estratégica. Exigem dividir o palco, mas ampliam o alcance da voz. E é exatamente essa capacidade de equilibrar essência e expansão que transformou a Havaianas em uma das marcas mais admiradas do mundo.
A lição que fica é simples: collab não é uma moda passageira, é um modelo de gestão de marca baseado em cocriação. Funciona quando há clareza de propósito, coerência estética e coragem de se reinventar sem perder autenticidade. A Havaianas domina todos esses elementos com naturalidade. É por isso que deixou de ser apenas uma marca de chinelos e se tornou uma referência global de branding cultural e crescimento sustentável.