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Outubro Rosa, câncer de mama e violência contra a mulher: um olhar ampliado para o cuidado

Foto: divulgação
Foto: divulgação

Durante muito tempo, falar sobre o Outubro Rosa significava falar apenas de prevenção ao câncer de mama. Mas, quando olhamos mais de perto, percebemos que o adoecimento feminino vai muito além do corpo físico.

As estatísticas continuam alarmantes: o câncer de mama é o tipo de câncer mais incidente entre as mulheres no Brasil. Mas há uma outra ferida, mais silenciosa e igualmente devastadora: a violência emocional, física e psicológica que tantas mulheres enfrentam todos os dias. Essas duas realidades, embora pareçam distintas, têm uma raiz comum: a negligência com o cuidado integral da mulher.

Quando recebi o diagnóstico de câncer, precisei revisitar não apenas minha rotina médica, mas a forma como eu existia no mundo. Percebi que o corpo grita o que a alma cala.  E que o adoecimento físico, muitas vezes, é o ponto final de um longo processo de autoabandono emocional.

O estresse constante, o excesso de responsabilidades, as relações adoecidas, o medo de dizer “não”, a cobrança por perfeição. Tudo isso corrói, silenciosamente, a vitalidade feminina. E, quando somamos a isso a violência (seja doméstica, institucional ou simbólica), o impacto é devastador.

Costumamos associar o termo violência contra a mulher apenas à esfera doméstica. Mas ela também está dentro das organizações, disfarçada em comportamentos normalizados. Acontece quando uma mulher é interrompida em uma reunião, quando sua opinião é desvalorizada, quando é julgada pelo tom de voz ou pelo jeito de se vestir.

Acontece na invisibilidade das suas ideias, na sobrecarga de trabalho sem reconhecimento, no assédio velado e nas microagressões diárias que desgastam a autoestima e adoecem silenciosamente. Essas formas sutis de violência corroem a segurança psicológica, limitam o potencial e geram ambientes onde o medo e a autocensura substituem a confiança e a criatividade.

E o custo disso não é apenas humano. É organizacional. Empresas que ignoram essas dinâmicas perdem talentos, produtividade e reputação.

A violência contra a mulher não é apenas uma questão de segurança pública; é também uma questão de saúde pública e de cultura corporativa. Nenhuma sociedade, e nenhuma empresa, será saudável enquanto suas mulheres estiverem doentes de dor, cansaço ou medo.

Precisamos de um novo olhar para o Outubro Rosa: um olhar ampliado para o cuidado. Um cuidado que começa no respeito ao corpo, às emoções, aos limites e às escolhas. Um cuidado que entende que prevenir não é só fazer exames, mas também:

  • Mover o corpo — porque o movimento é a forma de fortalecimento e gratidão à vida.
  • Cultivar relações positivas — estar cercada de apoio e afeto fortalece o sistema imunológico tanto quanto uma boa alimentação.
  • Dormir bem — o descanso é um remédio gratuito e essencial.
  • Gerir o estresse e buscar ajuda emocional — entender as causas do sofrimento é tão importante quanto tratar seus efeitos.

Prevenir é amar-se. É resgatar a própria voz, o próprio espaço e o direito de existir com dignidade. Quando falamos de prevenção, precisamos lembrar: não existe saúde plena sem segurança, respeito e liberdade.

Enquanto mulheres ainda tiverem medo de denunciar, vergonha de buscar ajuda ou culpa por priorizar o autocuidado, estaremos longe de uma cultura verdadeiramente saudável.

Outubro Rosa é mais do que uma campanha. É um lembrete de que cuidar de uma mulher é cuidar de toda uma rede de famílias, empresas e gerações.

E talvez o primeiro passo para transformar essa realidade seja ouvir com mais atenção. Ouvir o corpo. Ouvir as emoções. Ouvir as histórias. Porque o cuidado começa na escuta. E a escuta é o primeiro ato de amor.

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Consultora empresarial e palestrante, atua na transformação cultural de empresas por meio de programas de felicidade corporativa, segurança psicológica e sustentabilidade humana.

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