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Do balcão ao câmbio: até onde a IA deve decidir o futuro do dinheiro?

Foto: divulgação
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Por Taisa Bilecki, é head de câmbio do Grupo Braza.

O setor bancário brasileiro passa por uma transformação profunda impulsionada pela Inteligência Artificial. O que antes parecia uma promessa futurista, hoje se manifesta em operações de câmbio automatizadas e assistentes virtuais que ajudam investidores a buscar rendimento extra. Mais do que digitalizar processos, a IA está redefinindo como bancos se relacionam com clientes, gerenciam riscos e interpretam dados. O impacto vai além da eficiência operacional: trata-se de uma mudança estrutural na lógica do sistema financeiro.

Os investimentos em IA cresceram 61% em relação ao ano passado, segundo a pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2025, consolidando a tecnologia como prioridade estratégica. E há boas razões para isso: a utilização de tecnologias como machine learning, IA generativa e modelos multimodais têm demonstrado aumento de até 35% a eficiência em áreas críticas, como análise de risco, relatórios financeiros e detecção de fraudes, conforme o estudo de Tecnologias Emergentes para o Setor Bancário da Febraban, realizado em colaboração com a Accenture.

Para os consumidores, a mudança mais visível está na hiperpersonalização dos serviços. Sistemas inteligentes analisam grandes volumes de dados para identificar padrões de comportamento e necessidades específicas, oferecendo soluções adaptadas a cada situação. Em um país onde 80% das famílias enfrentam endividamento e metade dos trabalhadores atua na informalidade, essa capacidade de entender os contextos individuais é crucial para facilitar o acesso aos serviços financeiros, promovendo inclusão em vez de exclusão.

Chatbots e assistentes virtuais, disponíveis 24 horas, resolvem a maioria das solicitações rotineiras, liberando equipes humanas para interações mais complexas e estratégicas. Ao mesmo tempo, a IA fortalece a segurança, detectando anomalias comportamentais em segundos, identificando tentativas de fraude antes mesmo que sejam concluídas. Para clientes, isso significa maior proteção de dados e transações; para os bancos, uma camada adicional de confiabilidade.

No mercado cambial, marcado por volatilidade, especulação e assimetrias de informação, a IA se torna uma ferramenta de previsibilidade sem precedentes. Algoritmos de deep learning cruzam variáveis macroeconômicas, indicadores geopolíticos e oscilações em tempo real para prever tendências do dólar, euro e outras moedas com maior precisão, fortalecendo decisões de investidores e políticas de hedge de empresas exportadoras e importadoras.

Porém, o uso da IA não é isento de riscos: decisões automáticas em ambientes de alta volatilidade podem amplificar perdas sem governança e monitoramento humano. Por isso, a inteligência artificial deve ser encarada como parceira, não substituta, da racionalidade estratégica.

Neste cenário a responsabilidade também é essencial. Regulamentações em construção no Brasil buscam garantir transparência algorítmica, mitigação de vieses e uso ético da IA. O conceito de Inteligência Artificial Responsável (RAI) ganha força, assegurando que os sistemas sejam éticos, justos e explicáveis. Bancos também enfrentam o desafio de capacitar equipes para trabalhar com novas tecnologias, implementar mecanismos robustos de auditoria e garantir que a inovação não comprometa a segurança de dados pessoais e financeiros.

O futuro do setor bancário será definido pela combinação entre inteligência artificial e inteligência humana. A tecnologia amplia horizontes, mas o discernimento sobre sua aplicação continuará sendo papel das pessoas. Ao contrário das previsões alarmistas sobre substituição de empregos, a IA atua como amplificadora das capacidades humanas, permitindo que profissionais se concentrem em atividades de maior valor, como consultoria financeira personalizada, análise estratégica e desenvolvimento de produtos inovadores. A combinação entre inteligência artificial e o conhecimento humano vai além da eficiência operacional, focando na construção de relacionamentos duradouros com clientes.

Se 2025 já pode ser chamado de “o ano dos agentes de IA”, a década será marcada pelo equilíbrio entre eficiência e ética, inovação e responsabilidade. A grande questão não é mais se a IA transformará os bancos, mas como conduziremos essa transformação.

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