Por Priscila Manso, gerente de marketing na Recrutei.
Após anúncios de grandes empresas exigindo presença integral de seus colaboradores, a retomada obrigatória ao trabalho presencial reacende um debate urgente sobre os avanços conquistados na participação das mulheres no mercado de trabalho.
Essa imposição desconsidera um aspecto central da igualdade de gênero: a necessidade de conciliar carreira, maternidade e responsabilidades domésticas, muitas vezes atribuídas a elas.
O trabalho remoto ou híbrido não foi apenas uma comodidade durante a pandemia, mas um verdadeiro divisor de águas, permitindo que muitas mulheres permanecessem ativas e competitivas em suas carreiras. Retirar essa possibilidade representa, na prática, um retrocesso.
Um estudo da McKinsey aponta que 38% das mães de crianças pequenas afirmam que, sem flexibilidade, precisariam deixar o emprego ou reduzir a carga horária. Essa decisão não afeta apenas as famílias, mas também a capacidade das empresas de reter talentos.
Imagine uma profissional altamente qualificada que, diante da falta de opções, precisa abrir mão da carreira. Essa perda impacta diretamente a inovação e os resultados das organizações.
Dados do IBGE mostram que a participação feminina no mercado de trabalho caiu de 54,3% em 2019 para 52,2% em 2023, evidenciando que o retrocesso já está em curso.
O efeito dessa mudança vai além das famílias. Nos processos de recrutamento, a redução da flexibilidade diminui o número de candidatas interessadas, tornando mais complexa a atração de profissionais qualificados.
Empresas que insistem em modelos 100% presenciais tendem a enfrentar menor interesse de mulheres qualificadas, enquanto aquelas que oferecem alternativas híbridas ou remotas ganham vantagem competitiva.
Defensores do retorno integral ao escritório costumam alegar que a produtividade cai fora do ambiente físico.
No entanto, uma pesquisa do PMI contraria esse argumento, mostrando resultados muito próximos: 73,2% no remoto, 73,4% no híbrido e 74,6% no presencial.
Ou seja, a presença física não garante melhores resultados; o que faz diferença é a qualidade da gestão e dos processos.
O tema também impacta a economia como um todo. Segundo a OIT, um aumento de 25% na participação feminina até 2025 poderia acrescentar R$ 382 bilhões ao PIB brasileiro em oito anos, representando um crescimento de 3,3%.
Outro estudo da Agência Brasil indica que a igualdade salarial entre homens e mulheres teria efeito semelhante. Manter as mulheres no mercado não é apenas uma pauta social. É também uma estratégia de crescimento econômico sustentável.
Em síntese, manter a flexibilidade não deve ser tratado como um benefício eventual, mas como um compromisso estratégico. A volta obrigatória ao escritório ameaça conquistas importantes da diversidade de gênero e enfraquece a competitividade das empresas.
Valorizar alternativas híbridas, redesenhar vagas e estruturar políticas inclusivas é o caminho para evitar retrocessos e construir um mercado mais equilibrado, produtivo e justo para todos.