Por Tatiana Pimenta, CEO da Vittude.
Imagine começar o dia respondendo mensagens às 7h da manhã e encerrar com uma reunião às 22h. Essa é a nova realidade de muitos profissionais ao redor do mundo.
A linha entre vida pessoal e trabalho vem desaparecendo há algum tempo, mas dados recentes do Work Trend Index 2025, da Microsoft, mostram que essa tendência está se acelerando de forma preocupante.
Segundo o estudo, hoje um profissional é interrompido em média 275 vezes por dia por e-mails, chats e convites para reuniões. Isso representa uma interrupção a cada dois minutos durante o horário de trabalho.
E os limites não param por aí: as mensagens fora do expediente aumentaram 15% no último ano, enquanto as reuniões após as 20h cresceram 16%, impulsionadas por interações entre diferentes fusos horários.
Esses dados escancaram um problema crônico: o trabalho está ocupando todos os espaços da vida. O tempo, a energia e até o pensamento, e as consequências são visíveis.
Metade dos líderes e colaboradores relatam sentir que o trabalho está caótico e fragmentado. Ao mesmo tempo, 80% afirmam que não têm tempo ou energia suficiente para realizar suas tarefas. Como exigir inovação, criatividade e performance em um ambiente que promove esgotamento como norma?
É nesse contexto que a inteligência artificial entra em cena. O mesmo relatório revela que 82% dos líderes planejam usar agentes de IA para expandir a capacidade produtiva das equipes nos próximos 12 a 18 meses.
A promessa é aliviar a carga repetitiva, automatizar fluxos e permitir que os profissionais possam se dedicar ao que realmente importa: decisões estratégicas, criação, relações humanas, ou seja, aquilo que nenhuma máquina substitui.
No entanto, há um risco evidente: substituir a sobrecarga humana por uma sobrecarga digital, onde a expectativa de entrega só aumenta, agora impulsionada por agentes que trabalham 24/7.
Não é à toa que o estudo alerta que a velocidade dos negócios segue maior do que a capacidade de adaptação das pessoas. Se a IA for usada apenas para “produzir mais com menos”, sem repensar os fluxos, papéis e limites do trabalho, o resultado será ainda mais adoecimento.
Por isso, a tecnologia precisa vir acompanhada de uma mudança cultural profunda. Precisamos de líderes que entendam que a saúde mental não é um “extra”, mas um pilar estratégico.
Que saibam calibrar o chamado “índice humano-agente”, promovendo equilíbrio e bem-estar, e não apenas eficiência operacional.
O futuro do trabalho já começou, mas ele precisa ser construído com propósito. A era dos Frontier Firms, como define a Microsoft, só será positiva se cada avanço tecnológico for acompanhado por avanços humanos: mais empatia, mais escuta, mais limites saudáveis.
A IA pode ser uma grande aliada da saúde mental, mas só se deixarmos espaço para que as pessoas continuem sendo pessoas.