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Startups e PMEs: o ciclo virtuoso da tecnologia e dos M&As

Foto: divulgação.
Foto: divulgação.

Por Renan Georges, fundador e CEO da Zavii Venture Builder.

A velocidade da transformação digital exige coautoria na execução.

E é nesse espaço que surge uma nova fronteira: aquela em que executivos e empreendedores não apenas aconselham, mas também empreendem junto, cofundando startups, acelerando PMEs e construindo negócios que nascem preparados para crescer.

O Brasil, como sabemos, não é terreno fácil. Temos um ambiente regulatório desafiador, gargalos estruturais e ciclos de crédito mais instáveis que os de mercados maduros. Mas, paradoxalmente, é justamente aqui que surgem as maiores oportunidades.

Nosso ecossistema de startups já ultrapassa 13 mil empresas mapeadas, e mesmo em um cenário de retração global de venture capital, o Brasil segue como o maior polo de inovação da América Latina.

E há um dado que poucos enxergam: 98% das transações de M&A no Brasil acontecem abaixo de R$ 200 milhões.

Isso significa que o grande jogo não está apenas nas gigantes de tecnologia que ocupam as capas de revista, mas em empresas médias, startups em crescimento acelerado e PMEs que possuem bases sólidas e carecem de tecnologia e governança para dar o próximo passo.

Costuma-se comparar startups a pequenas e médias empresas. O erro é conceitual. PMEs crescem com previsibilidade e escala moderada.

Startups são projetadas para crescer em ciclos curtos, com hipóteses testadas, métricas ajustadas e, muitas vezes, com a liquidez como horizonte desde a fundação.

O que acontece quando aplicamos frameworks de startup dentro de uma PME? Criamos aeroportos regionais com pista para receber aviões internacionais: estruturas capazes de escalar sem colapsar.

Esse raciocínio está no centro de um movimento que une venture building e consultoria empreendedora: em vez de oferecer apenas conselhos, oferecer skin in the game.

Não é sobre cobrar honorários para diagnosticar problemas, é sobre dividir riscos e ganhos, aplicando know-how técnico de tecnologia, marketing, gestão e finanças, enquanto se constrói o negócio junto com o empreendedor.

Vivemos um momento em que tecnologia é requisito. Inteligência artificial, automação de processos, APIs abertas e análise avançada de dados deixaram de ser apostas para se tornarem a espinha dorsal de qualquer operação que queira competir.

Mas a tecnologia sozinha não gera valor: ela precisa estar conectada à tese de negócio clara e estratégia de saída bem definida.

É por isso que vemos o crescimento de operações de M&A focadas em scale-ups e PMEs digitalizadas. Empresas de médio porte que souberam incorporar tecnologia de forma ágil se tornam alvos naturais para grandes grupos ou fundos. O movimento é simples: transformar complexidade em liquidez.

No passado, o sonho de toda empresa era abrir capital. Hoje, com a janela de IPOs praticamente fechada no Brasil, o caminho mais viável de liquidez é a aquisição estratégica.

E para estar pronto para esse momento, não basta ter produto: é preciso ter governança, dados confiáveis, processos replicáveis e métricas de crescimento saudáveis.

Consultoria que empreende junto

Ao invés de pensar apenas em “consultoria”, devemos falar em coempreender. Significa que quem orienta está disposto a colocar sua própria experiência operacional, sua rede de contatos e, muitas vezes, até seu próprio capital em jogo. O resultado é um modelo mais rápido, pragmático e orientado a resultados.

Exemplo prático: uma PME do setor de alimentos e bebidas pode ter grande potencial de expansão, mas opera em ciclos longos, sem dados integrados e com processos ainda analógicos.

Ao receber a abordagem de um venture builder ou consultoria empreendedora, essa empresa não apenas ganha um diagnóstico, mas um novo modelo operacional, com squads multifuncionais, métricas como CAC, LTV, churn e burn rate aplicadas ao seu negócio, e uma visão clara de como se preparar para um M&A.

Startups, PMEs e grandes empresas não podem mais caminhar em paralelo. Precisam operar de forma integrada, formando cadeias de valor mais ágeis e resilientes.

A competitividade de um negócio passa a depender da capacidade de construir pontes e gerar sinergias que antes pareciam improváveis.

Nesse contexto, a lógica do coempreender ganha força. Consultorias tradicionais dão lugar a modelos em que experiência, rede e capital são colocados em prática dentro da operação.

Trata-se de abrir caminho para que empresas estejam prontas não apenas para crescer, mas para se tornarem atrativas em processos de M&A.

O futuro das organizações brasileiras está diretamente ligado à sua capacidade de transformar complexidade em liquidez. Tecnologia, governança e estratégia de mercado formam o tripé que sustenta essa transformação.

O caminho é claro: unir visão e execução em torno de negócios preparados para escalar e gerar impacto real no ecossistema econômico.

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