Se há uma habilidade organizacional que define os vencedores empresariais na era digital, é a destreza digital. Mais do que saber usar tecnologia, trata-se da capacidade de transformar ferramentas digitais em vantagem competitiva, com inteligência estratégica e agilidade na execução.
Na prática, empresas com alta destreza digital são aquelas em que as pessoas sabem tomar decisões baseadas em dados, adaptar processos com velocidade, e inovar de forma contínua e conectada ao propósito do negócio. Segundo a Gartner, essas empresas têm 3,3 vezes mais chances de sucesso nas suas iniciativas de transformação digital. Isso porque, atualmente, a aquisição e implementação de novas tecnologias, por si só, não garantem o sucesso. O valor só é desbloqueado quando está nas mãos de pessoas preparadas e motivadas para usá-la de forma criativa e estratégica.
Para isso, é fundamental entender a diferença entre literacia e destreza digital. Enquanto a primeira foca no uso técnico de tecnologias existentes para executar tarefas definidas, a segunda envolve uma mudança cultural e de mentalidade. Para a destreza, atributos como curiosidade, aprendizagem contínua, adaptabilidade, colaboração, fluência digital, proatividade e resiliência são essenciais. É uma competência cultural, e não apenas operacional.
Sem essa habilidade, mesmo os investimentos mais robustos em tecnologia podem vir abaixo. Ou seja, o retorno sobre o investimento (ROI) de qualquer iniciativa tecnológica, seja a migração para a nuvem ou a adoção de IA, está diretamente dependente do nível de destreza digital da organização.
Inteligência, agilidade e liderança: o tripé da transformação
O primeiro pilar da destreza digital é a inteligência: a capacidade organizacional de transformar dados brutos em insights acionáveis e em decisões estratégicas superiores. Dados, sozinhos, não têm valor. O que importa é a capacidade de interpretá-los, transformá-los em insights e tomar decisões mais precisas e rápidas.
Isso exige mais do que ferramentas. Requer uma mudança em que lideranças e equipes operam com base em evidências, não em hierarquia ou intuição. Também exige a democratização do acesso à informação: dashboards inteligentes, análises preditivas e decisões que antecipam cenários antes que eles virem crises. Um ponto importante para as as lideranças é focar no que realmente ajuda a transformar positivamente os negócios, então uma análise criteriosa em relação ao que efetivamente gera valor (Must Have) é importantíssimo para que não sejam feitos projetos que serão esquecidos ao longo do tempo.
O segundo pilar é a agilidade tecnológica, entendida como a capacidade de agir, adaptar-se, inovar e entregar valor mais rapidamente, de forma segura e escalável. Aqui, não basta instalar metodologias ágeis. É preciso internalizar seus princípios de colaboração, experimentação e aprendizado contínuo..
Mas há um alerta: a agilidade não se resume à velocidade. Um dos erros mais comuns é confundir “mover-se rápido” com “mover-se sem pensar”. Organizações maduras combinam velocidade com pensamento crítico. Ou seja, é uma capacidade organizacional que engloba a mentalidade dos funcionários, os processos de trabalho e a arquitetura tecnológica. A agilidade está relacionada a agregar valor rápido de forma consistente e incremental, não adianta fazer algo rápido que não agrega valor.
Nenhum desses pilares se sustenta sem serem impulsionados a partir do topo da organização. É necessário uma liderança engajada, que dê o exemplo através das suas próprias ações e crie as condições para que a mudança aconteça, reforçando que aprender não é uma exceção — é o novo normal.
Empresas que constroem uma cultura que valorize a aprendizagem contínua, com programas consistentes de reskilling e upskilling, ganham engajamento, retenção de talentos e capacidade real de inovar. Com a evolução da IA, cada vez mais habilidades como design de soluções serão mais valorizadas, pois a execução será amplamente apoiada pela tecnologia.
A destreza digital não é um projeto com um início e um fim, mas sim uma capacidade organizacional dinâmica que deve ser cultivada. Acredito que, internalizando essa realidade, as empresas não só sobreviverão à disrupção digital, como também a liderarão.