Por Davi Iglesias, CEO da Gendo.
Durante décadas, o sucesso de um pequeno negócio dependia do famoso “boca a boca”. Um bom atendimento, um cliente satisfeito e a recomendação pessoal eram suficientes para garantir novos fregueses.
Mas, nos últimos anos, essa dinâmica mudou. O boca a boca não desapareceu: ele foi digitalizado. Hoje, quem decide quais negócios aparecem primeiro não é mais a conversa entre amigos, e sim o algoritmo.
O novo boca a boca acontece no Google, onde os clientes são atraídos pela nota de avaliação e pela proximidade geográfica, e não mais apenas por indicações diretas.
A escolha de um salão, clínica ou barbearia muitas vezes começa com uma busca “perto de mim”, seguida pela análise das notas e dos comentários.
Essa combinação de visibilidade, localização e reputação se tornou o novo formato de recomendação, em que o algoritmo amplia o alcance do boca a boca tradicional, sem substituí-lo. Os novos influenciadores do consumo local não são apenas criadores de conteúdo, mas clientes comuns.
Cada avaliação, comentário e foto publicada em um perfil de negócio tem o poder de influenciar dezenas (às vezes centenas) de decisões de compra. Para os negócios locais, isso significa que cada atendimento é também uma oportunidade de conquistar destaque nas buscas e atrair novos clientes.
O algoritmo, nesse contexto, atua como um megafone: ele amplifica a experiência positiva (ou negativa) de cada cliente. Por isso, um perfil bem avaliado, com respostas rápidas e atualizações constantes, vale tanto quanto uma boa vitrine física. A confiança continua sendo o ativo central, mas agora é construída publicamente
O consumidor atual é mais exigente, criterioso e racional. Ele busca evidências antes de escolher: lê avaliações recentes, observa fotos reais, compara preços e prioriza conveniência.
Um estudo da IEOM Society (2020) mostrou que a qualidade percebida e a confiança explicam mais de 70% da fidelidade do cliente em serviços. Já uma pesquisa da FGV EAESP (2022) apontou que os brasileiros valorizam empresas transparentes e consistentes, mais do que aquelas que apenas se comunicam bem.
A confiança, portanto, é conquistada por meio da experiência e mantida pela coerência. Fidelizar clientes hoje vai muito além do bom serviço. Envolve oferecer uma jornada digital sem atrito: agendamento fácil, lembretes automáticos, respostas rápidas no WhatsApp e pós-atendimento atencioso.
Esses pequenos gestos digitais constroem a percepção de profissionalismo e cuidado. Na prática, isso se reflete em menos faltas, mais retornos e melhores avaliações. É a gestão eficiente transformando o relacionamento em reputação e fidelização.
Ainda assim, muitos pequenos negócios e autônomos tratam a presença digital como algo secundário. Perfis desatualizados, ausência de respostas e fotos reais e falta de integração entre canais são erros que minam a confiança.
A presença digital deve ser planejada com o mesmo cuidado que o atendimento presencial, pois é ela que hoje constrói credibilidade antes mesmo do primeiro contato.
A próxima etapa da fidelização será marcada por três pilares: inteligência artificial, personalização e automação. A IA permitirá identificar padrões de comportamento, sugerir ações em períodos de baixa demanda e personalizar comunicações de acordo com o histórico do cliente.
A automação, por sua vez, garantirá constância e eficiência, mantendo o relacionamento ativo sem perder o toque humano.
No fim, fidelizar clientes na era digital continua sendo sobre confiar, ouvir e cuidar, mas agora com a ajuda de dados, algoritmos e automação. O boca a boca nunca foi tão poderoso. Só que, hoje, ele fala a língua do digital.