Datas como 9.9, 10.10 e 11.11, criadas e popularizadas na Ásia, estão redesenhando o ritmo do varejo brasileiro. O que começou como uma estratégia local de marketplaces chineses se tornou um novo modelo de relacionamento com o cliente. E não é modismo: é a consolidação da lógica do consumo contínuo e da antecipação inteligente.
O novo calendário do consumo
O 11.11, conhecido como Singles’ Day ou Double 11, é a maior data de compras do mundo, movimentando cerca de 200 bilhões de dólares em 2024 segundo a consultoria Syntun. A AliExpress considera o evento a principal data do ano, e plataformas como Shopee, SHEIN e até o Mercado Livre já entraram na disputa.
Essas datas funcionam como mini Black Fridays distribuídas ao longo do ano. O objetivo é claro: manter o consumidor engajado, reduzir a sazonalidade e gerar fluxo constante de dados. Para o cliente, é a chance de compra imediata. Para as marcas, uma oportunidade de testar campanhas, ajustar preços e criar novas narrativas de oferta.
A lógica da antecipação
O consumidor de hoje não quer esperar o “grande dia”. Ele quer relevância, conveniência e uma boa experiência o tempo todo. As datas duplas nasceram do mesmo princípio que move o streaming e o conteúdo sob demanda: quem dita o ritmo é o usuário, não o calendário.
Na prática, isso muda tudo. As marcas que ainda concentram esforços apenas em novembro perdem presença digital, share of mind e dados estratégicos de jornada. Já as que entendem a dinâmica das datas duplas capturam atenção antes da concorrência e constroem uma rotina de relacionamento contínuo ao longo do ano.
O que muda para as marcas brasileiras
As datas duplas trazem quatro desafios e oportunidades claras:
- Planejamento em ciclos curtos. Campanhas mais ágeis e interativas, com aprendizado constante.
- Conteúdo em tempo real. A relevância nasce de lives, influenciadores e experiências interativas.
- Uso de dados para personalização. Cada data é um novo laboratório de comportamento do cliente.
- Estratégia omnichannel real. O consumidor não diferencia o clique do balcão. Ele quer continuidade de experiência.
As datas duplas refletem um novo tipo de consumidor: menos fiel ao calendário e mais fiel à conveniência.
A pergunta agora não é quando a Black Friday acontece, mas quantas “Black Fridays” o mercado está disposto a criar.
O futuro das vendas não vai girar em torno de uma data fixa, e sim da capacidade das marcas de criar momentos que façam sentido para o cliente. Quando o público deixa de esperar o feriado, cabe às marcas criar o feriado.