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A inteligência que decide: próximo salto das PMEs brasileiras é de mindset, não de ferramenta

Foto: divulgação
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O Brasil já atravessou ondas tecnológicas importantes, como HTML, mobile e SaaS. No entanto, o momento atual exige uma mudança mais profunda e menos visível: a passagem da “era do acesso” para a “era do valor”. Hoje, não basta oferecer sistemas com listas de recursos, é preciso entregar trabalho feito.

O software realmente transformador é aquele que automatiza, decide, aprende e gera impacto direto no DRE (Demonstrativo de Resultados). Quando o sistema começa a operar, o modelo de gestão, operação e monetização precisa acompanhar. E aí está o ponto em que muitas PMEs (Pequenas e Médias Empresas) travam. E isso não se dá por falta de ferramenta, mas por falta de mudança estrutural, nas pessoas, na cultura e na lógica do negócio.

Tecnologia, por si só, não resolve um modelo mental desalinhado. A adoção falha quando a operação continua presa ao improviso, mesmo após a compra de um sistema. Pedimos que os times usem o CRM, mas seguimos cobrando presença em vez de resultado. O que deveria ser plataforma de orquestração vira repositório de tarefas.

Para funcionar, o sistema precisa encontrar um perfil diferente do outro lado: gente preparada para decidir melhor em menos tempo, não apenas executar comandos. IA, automações e copilotos só fazem sentido quando libertam o time do trivial e colocam energia no que só o humano pode destravar: contexto, priorização, risco.

Tempo-até-valor como cultura

Essa lógica exige uma virada cultural: o tempo-até-valor precisa ser tratado como moral organizacional. Muitas empresas ainda exigem tempo adiantado do cliente (demos longas, reuniões futuras, etapas burocráticas) antes de entregar qualquer benefício tangível. O caminho mais eficaz é o oposto: reduzir atrito e gerar valor no primeiro contato. Pequenas entregas rápidas criam um ciclo de confiança e engajamento. Isso não é atalho, é disciplina.

Essa mudança de postura precisa alcançar também a monetização. Se o software executa trabalho, o preço precisa refletir o impacto, e não apenas o acesso. Modelos híbridos, baseados em uso, workflow ou resultado, vêm ganhando força justamente porque alinham valor percebido e valor cobrado. Nesse cenário, o preço (pricing) deixa de ser planilha e passa a ser infraestrutura estratégica, com dados, versionamento e governança. Tratar preço como produto permite escalar com previsibilidade e justiça.

O futuro: organizar para vender melhor

Por fim, a própria interface está mudando. Os sistemas mais eficientes já não exigem que o usuário “vá até eles”. Eles agem no fluxo, interpretam linguagem, respondem contexto, priorizam sinais. No CRM, por exemplo, isso significa deixar de ser um arquivo de atividades e tornar-se um sistema de atenção que capta, interpreta e sugere, tudo no canal certo, na hora certa.

A tecnologia para essa virada já existe. O que falta, muitas vezes, é o que ela encontra do outro lado: pessoas com autonomia, cultura com clareza e negócios que entregam o que cobram. Organizar para vender melhor não é marketing, é sobrevivência. E exige menos clique e mais clareza; menos tela e mais valor vivo. O resto é ruído.

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Co-fundador e CRO do PipeRun.

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