Por Gonzalo Parejo, CEO da Kamino.
As médias empresas brasileiras sustentam parte importante da economia nacional. São responsáveis por quase um quinto dos empregos formais e por um quarto da massa salarial. Apesar disso, permanecem em um limbo: não recebem o apoio institucional voltado às pequenas empresas nem contam com os recursos e incentivos acessíveis às grandes corporações. O resultado é crescimento limitado, quando poderiam ser um dos principais motores de desenvolvimento do país.
Um retrato desse cenário foi apresentado no relatório Raio-X de Médias Empresas Brasileiras, da Fundação Dom Cabral (FDC), que mostrou que entre 2022 e 2024, apenas 22,1% das médias empresas atingiram a chamada “alta taxa de crescimento”, definida como dobrar de tamanho em cinco anos. No ciclo anterior, que compreende os anos de 2016 a 2021, o percentual havia sido de 33%.
Outro ponto relevante é o fato de que médias empresas representam uma parcela expressiva da população empregada, mas sua contribuição para o PIB ainda é desproporcionalmente menor quando comparada com as corporações maiores. Isso evidencia o gap de produtividade que existe entre médios e grandes negócios.
De um lado, o ambiente macroeconômico pode ajudar a explicar parte do desafio: crédito caro, aumento dos pedidos de recuperação judicial e queda da confiança no cenário político e econômico pesam na balança. Também é preciso considerar obstáculos como a ausência de uma gestão mais profissionalizada e a falta de infraestrutura bancária e de serviços financeiros adequados às PMEs, áreas historicamente negligenciadas pelo sistema tradicional. Mas se os desafios de gestão existem, é justamente na gestão que despontam soluções para esses problemas.
Automatizar processos, reduzir custos e dar visibilidade em tempo real ao fluxo de caixa são medidas que liberam CFOs e equipes financeiras do trabalho manual e os aproximam das decisões estratégicas. Mas devemos ir além e considerar que, o próximo passo além da automação, é dar inteligência às finanças. Nesse sentido, a evolução dos sistemas de gestão — do system of record ao system of intelligence e, agora, ao system of action — tem mostrado como a inteligência artificial está transformando a área financeira, permitindo a tomada de decisões em tempo real.
Os dados da FDC reforçam a visão. Um dos fatores determinantes para o bom desempenho das empresas é a maturidade de gestão: 83% das companhias de alto crescimento contam com práticas avançadas ou excelentes, enquanto um terço das estagnadas opera com modelos ainda iniciais.
Porém, ainda lidamos com um cenário em que muitas médias empresas continuam recorrendo a planilhas e sistemas fragmentados para lidar com múltiplos bancos, conciliações e pagamentos. Esse modelo, além de arriscado e ineficiente, prende o time financeiro em tarefas manuais. Automatizar essas rotinas não é apenas uma questão de tecnologia, mas de competitividade. Permite reduzir custos, antecipar riscos e dedicar tempo a decisões que aumentam produtividade e margens.
O Brasil conta hoje com cerca de 1,5 milhão de médias empresas, segundo dados da EconoData. Se esse conjunto tivesse condições de prosperar em escala, o impacto seria imediato na geração de empregos, arrecadação e distribuição de renda. O desafio brasileiro é garantir que essas companhias deixem de ser invisíveis. Isso envolve, entre muitas ações, o acesso a tecnologias de gestão que permitam eficiência e previsibilidade.
Fortalecer as médias empresas não é apenas atender a uma demanda corporativa, é investir no futuro do país. Quanto antes criarmos as condições para que prosperem, mais cedo transformaremos o potencial em prosperidade. Não há desenvolvimento sustentável sem médias empresas fortes.