Pesquisar

A crise de sentido na geração mais conectada da história

Foto: divulgação
Foto: divulgação

Vivemos um paradoxo: nunca estivemos tão conectados e, ao mesmo tempo, nunca tantos jovens se sentiram tão sozinhos e perdidos. Os números mostram isso com clareza. Segundo a Harvard Graduate School of Education, quase seis em cada dez jovens relatam ter sentido pouco ou nenhum propósito no último mês. O World Happiness Report indica que 19 por cento afirmam não ter ninguém em quem confiar.

Esses dados não são apenas estatísticas. Revelam uma geração que cresceu com infinitas possibilidades, mas que hoje enfrenta excesso de informação, comparação constante e pressão para ter uma vida perfeita. A promessa de que “você pode ser o que quiser” virou, para muitos, um peso difícil de carregar.

A falta de sentido não é só um problema emocional. Pesquisas da American Psychological Association mostram que propósito atua como uma espécie de proteção mental. Ele organiza a vida, dá direção e reduz ansiedade. Sem propósito, jovens têm mais dificuldade de focar, criar, planejar e até lidar com pequenas frustrações.

O impacto chega às empresas. Quando profissionais não enxergam sentido no trabalho, o engajamento cai, a inovação diminui e a rotatividade aumenta. Ambientes muito competitivos, rígidos ou silenciosos ampliam ainda mais a sensação de isolamento. E pessoas isoladas produzem e aprendem menos.

A boa notícia é que existem caminhos. A ciência organizacional mostra que práticas simples ajudam a reconstruir propósito e pertencimento. Explicar claramente o motivo das tarefas, permitir que colaboradores adaptem parte do seu trabalho e criar espaços seguros para perguntar, errar e aprender faz diferença. Programas de mentoria também reduzem solidão e fortalecem conexões.

Fora das empresas, o cenário também precisa de atenção. Escolas raramente estimulam reflexão sobre identidade e propósito. Muitas cidades dificultam encontros, convivência e espaços comunitários. E as plataformas digitais, embora aproximem, também reforçam comparação e desconexão emocional.

O Estudo de Desenvolvimento Adulto de Harvard, que acompanha pessoas há mais de 80 anos, mostra algo simples: o maior fator de felicidade ao longo da vida é a qualidade das relações. Não é talento, não é dinheiro, nem é sucesso. São vínculos reais.

Reconstruir esse sentido não é tarefa apenas individual. É responsabilidade de famílias, escolas, empresas, governos e da sociedade como um todo. Um jovem pode até tentar encontrar propósito sozinho, mas se o ambiente ao redor reforça isolamento e pressão, ele vai se perder de novo.

A geração mais conectada da história não precisa continuar sendo a mais desorientada. Se criarmos ambientes mais humanos, relações mais verdadeiras e trabalhos que façam sentido, talvez os próximos relatórios mostrem um cenário diferente. Um cenário em que jovens se sintam parte de algo, encontrem direção e caminhem com mais clareza.

Esse é o desafio e também a oportunidade do nosso tempo.

Compartilhe

Consultora empresarial e palestrante, atua na transformação cultural de empresas por meio de programas de felicidade corporativa, segurança psicológica e sustentabilidade humana.

Leia também