Por Marcelo Sousa, VP de produto da Caf.
Inspirado em modelos legítimos como o Software as a Service (SaaS), o Fraud as a Service (FaaS) vem transformando o submundo do crime em um verdadeiro ecossistema de negócios.
A prática profissionaliza o cibercrime ao oferecer ferramentas, infraestrutura e suporte técnico a quem deseja aplicar golpes, sem precisar dominar programação ou engenharia social.
Esse “mercado paralelo” de serviços ilícitos expõe um novo estágio de maturidade do crime digital, e impõe às empresas a necessidade de responder com inteligência e velocidade equivalentes.
E onde esse mercado floresce? Em plataformas digitais que muitas vezes, por leniência, se tornam coniventes do crime na prática. Ou seja, o FaaS representa a industrialização do crime digital.
Porém, enquanto os fraudadores trocam informações em tempo real sobre o que funciona em milhares de grupos organizados, as empresas ainda operam em silos, tentando não perder seu diferencial competitivo, mas ao mesmo tempo, combater esses golpes dentro de casa, por exemplo.
A consequência direta é uma assimetria perigosa. E o alvo dessa máquina industrializada não são mais apenas as grandes companhias. À medida que os gigantes se blindam, a rede FaaS mira nas pessoas e nas pequenas e médias empresas, que investem menos em segurança e se tornam alvos de alto retorno e baixo risco para os criminosos.
Essa dinâmica cria uma vulnerabilidade silenciosa. Fazendo uma analogia simples, a fraude é muito semelhante a um vazamento de água: a mancha pode ser descoberta em um ponto, mas a origem da fragilidade pode estar em outro lugar completamente diferente, como uma integração de sistema ou uma violação de dados.
Logo, o que hoje é uma gota, amanhã se torna um fluxo contínuo que pode romper toda a estrutura do negócio. Para PMEs, isso pode colocar em xeque a sobrevivência da empresa.
Então, qual é a solução para grandes e pequenas empresas? O primeiro passo é uma mudança de mentalidade: investir em inteligência antifraude não é um custo, é uma das maiores alavancas de ROI (Return on Investment) disponíveis.
Para se ter uma ideia, segundo estudo da LexisNexis, para cada R$ 1 perdido com fraudes no Brasil, o prejuízo é de R$ 3,59. Sem contar os custos intangíveis de danos à reputação e perda de clientes.
Por outro lado, o investimento em prevenção pode evitar perdas significativas e, lá na ponta, contribuir para uma melhor experiência do cliente.
Em segmentos como o financeiro, por exemplo, soluções robustas de antifraude reduzem o número de bloqueios indevidos e falsos positivos em transações, garantindo que o usuário finalize suas operações com mais confiança.
O mesmo vale para o e-commerce, onde uma boa estratégia de segurança protege tanto o negócio quanto o consumidor, fortalecendo o relacionamento e a satisfação. Logo, é preciso parar de enxergar a verificação inteligente como um freio e começar a vê-la como um acelerador de negócios confiáveis.
A segunda mudança é tecnológica. A era da “bala de prata”, ou seja, aquela única solução que validava identidades, documentos e prometia resolver tudo, acabou. O combate ao FaaS exige organização integrada: o uso inteligente e dinâmico de múltiplas camadas de proteção.
Em vez de um fluxo de segurança rígido e previsível, essa orquestração de ferramentas permite adaptar a defesa ao risco de cada transação ao contar com tecnologia de ponta e, principalmente, inteligência artificial.
Ao considerar jornadas hiperpersonalizadas, é possível não apenas dificultar a atuação de fraudadores ao quebrar seus scripts pré-prontos, mas também otimizar a jornada do cliente legítimo e diminuir a fricção como um todo.
A liderança que não entender essa nova realidade estará combatendo o crime com as ferramentas de ontem.
A pergunta que todo c-level deve se fazer não é “quanto custa para nos protegermos?”, mas sim “quanto nos custará não ter a capacidade de orquestrar multiplas camadas de defesa?”.