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Burnout: como o ambiente corporativo impacta positiva e negativamente na saúde mental de colaboradores

Foto: divulgação.

Este ano, o Burnout foi reconhecido como doença do trabalho, e não é para menos. Segundo um levantamento recente feito em parceria pela Pulses, HRtech que tem soluções para medir continuamente clima, engajamento e performance, e a Vittude, ao menos 81% dos colaboradores têm se sentido esgotados ao fim do dia. Para saber mais desse estudo e as consequências que o Burnout no ambiente corporativo, o Economia SP Drops conversou com Iandara Rebello, líder de People Science da Pulses. Confira abaixo:

Recentemente, a Pulses fez um estudo sobre a saúde mental do colaborador brasileiro. Quais foram os resultados dessa pesquisa?

Iandara: A Pulses, em parceria com a Vittude, elaborou um instrumento para investigar o Bem-Estar Emocional, com o objetivo de identificar indícios de situações vivenciadas pelos colaboradores que possam trazer algum prejuízo emocional. Nessa pesquisa, consideramos o bem-estar emocional como um estado de equilíbrio, mesmo diante dos “altos e baixos” da vida, tanto no que se refere ao trabalho, quanto às situações particulares que envolvem o cotidiano das pessoas. O instrumento foi elaborado com duas dimensões: Medo e Preocupação e Exaustão Emocional. A primeira refere-se a alguns dos principais indícios que podem estar associados a quadros de ansiedade, enquanto a segunda trata de um dos principais fatores relacionados ao Burnout. Os resultados gerais, na dimensão Exaustão Emocional, apontam que os colaboradores vivenciam, algumas vezes, o esgotamento, a falta de disposição para o trabalho, a necessidade de provar seu valor, dificuldades em cumprir suas atividades profissionais, frustração em relação ao trabalho, bem como de manter a paciência com os colegas. Destaca-se que mais frequentemente estão presentes o esgotamento e a necessidade de provar o valor. E esses resultados independem do porte da empresa, revelando a premência de ações assertivas por parte das lideranças e RH, no sentido de evitar o adoecimento emocional dos trabalhadores. O gênero masculino apresenta mais resultados favoráveis na dimensão Exaustão Emocional, quando comparado às mulheres, que têm experienciado mais situações relacionadas ao burnout. Esses resultados reforçam a série de estudos que comprovam que elas estão muito mais sobrecarregadas com as atividades profissionais, de cuidados domésticos e com filhos e/ou parentes que necessitam de algum cuidado maior. Na dimensão Medo e Preocupação os dados apontam que os colaboradores têm vivenciado, com frequência, episódios relacionados ao pensamento ou lapsos de memória sobre o que ia falar, dificuldades de concentração, dificuldades para controlar as preocupações e para dormir, dentre outros. Essas situações associadas a quadros de ansiedade estão presentes independentemente do porte das organizações, alguns em níveis críticos (ou seja, sempre e quase sempre) e vários em nível de atenção (algumas vezes), o que requer uma análise cuidadosa e elaboração de planos de ação compatíveis com as especificidades de cada empresa e/ou área, para que possam viabilizar a presença efetiva do trabalhador no ambiente organizacional. Em relação ao gênero dos respondentes, os dados apontam maior percentual de favorabilidade nos homens quando comparados às mulheres. Essas apresentam maior percentual de fatores vividos sempre ou quase sempre e nos fatores que requerem atenção – algumas vezes. E independente do gênero, é na geração Z que se encontram os percentuais mais críticos, nas mulheres quando comparado aos homens.

Em janeiro, o Burnout foi oficialmente decretado como uma doença ocupacional. Quais os sinais e perigos dessa síndrome?

Iandara: O maior perigo da Síndrome de Burnout é o impacto na vida profissional e pessoal. Isso por conta dos sinais, como isolamento social, irritabilidade, insensibilidade ou hostilidade em relação às pessoas, insônia, perda de apetite, absenteísmo, dificuldade de concentração, cansaço extremo e sensação de não ter energia para o dia a dia de trabalho, bem como diminuição da realização profissional e/ou pessoal, com altos níveis de frustração e sentimento de incompetência.

Quais razões foram responsáveis pelo aumento do número de casos?

Iandara: Num mundo em constante turbulência, sobressaltos, incertezas e outros eventos que muitas vezes fogem ao nosso controle, é comum as pessoas vivenciarem sintomas de estresse, de medo e preocupação. Para além de questões sociais, políticas e econômicas, nessa pesquisa nos debruçamos para analisar o quanto os aspectos relacionados às condições e à organização do trabalho influenciam no bem-estar emocional do colaborador. Também não é novidade os impactos que a pandemia do Covid-19 trouxeram para a vida das pessoas e das empresas. As mudanças e as incertezas foram uma constante, e a necessidade de adaptação movimentou também as organizações. Além das preocupações já existentes, esse tema precisou ser tratado nas pautas entre RH e liderança, c-level, líder e liderado, comitês, grupos de apoio, etc. Novos formatos, novos conflitos e novos questionamentos entraram no debate corporativo. 

Esse aumento também pode ser possível pelo entendimento do que é o Burnout (No sentido de: antes, as pessoas não recebiam o diagnóstico correto e a síndrome era vista apenas como estresse)?

Iandara: Possivelmente sim. E dentro dessa perspectiva, é importante falarmos sobre a relevância da disseminação da informação, como também da compreensão dos sinais desfavoráveis ao bem-estar emocional, em prol da promoção à saúde e bem-estar das pessoas dentro e fora das organizações. 
Quando as empresas são capazes de identificar sinais de exaustão, medo e preocupação, por exemplo, elas se tornam capazes de “ajustar rotas” sem grandes prejuízos, modificando processos, estruturas, modos de interação e outros aspectos culturais do contexto corporativo que podem contribuir desfavoravelmente à saúde do colaborador. O indivíduo, por sua vez, quando capaz de identificar sinais que vão contra ao seu bem-estar, pode buscar de forma mais efetiva auxílio, se dispondo de recursos para a prevenção de um possível adoecimento.
 

Como as empresas têm abordado o tema e, principalmente, combatido a síndrome?

Iandara: Para o combate à síndrome é necessário investir em um ambiente de trabalho saudável, já que alterações no bem-estar emocional impactam na saúde e no engajamento dos colaboradores. A preocupação genuína com as pessoas e o desenvolvimento de programas que valorizem os indivíduos na sua integralidade possibilitam experiências e percepções relevantes, e estimulam no colaborador o engajamento e o desejo de contribuir e permanecer, de forma saudável e sustentável no tempo. Alguns programas e projetos que não exigem altos investimentos sobre o tema e que são práticas que valorizam o ambiente de trabalho saudável são: campanhas de prevenção à saúde dos colaboradores, estímulo aos hábitos alimentares saudáveis, biblioteca corporativa e um clube de leitura em grupo, palestras sobre o tema, day off em aniversários, além de  possibilitar momentos de interação para incentivar pequenas pausas onde não se fale de trabalho. Somado a isso, repensar as estruturas do trabalho em si, verificando o que pode ser automatizado e melhorado para gerar maior eficiência às equipes, já que ajuda muito a minimizar trabalhos operacionais que podem levar ao esgotamento. Também posso citar alguns exemplos de como a Pulses aborda o tema com seus colaboradores, buscando minimizar os pontos que a pesquisa levantou. Por meio da escuta contínua, rituais de alinhamento e feedback constante, além de trabalhar aspectos estruturais como horário flexível, por aqui, a consideração pelo outro, pelo ambiente e por nós mesmos é uma crença fundamental no nosso jeito de ser e fazer.

Como a Pulses trabalha para auxiliar nesse contexto?

Iandara: Com a Pesquisa de Bem-estar Emocional é possível acompanhar o estado emocional dos colaboradores e criar planos de ações para promover melhorias no ambiente organizacional. Por meio do instrumento, as empresas podem investigar algumas situações que se opõem ao bem-estar emocional, considerando o indivíduo tanto no seu contexto de trabalho, quanto fora dele. Isso porque a pesquisa favorece o acompanhamento do estado emocional do seu colaborador por meio das dimensões:

  1. Medo e preocupação, que investiga indícios de medo e/ou preocupação que podem estar associados a quadros de ansiedade. A ansiedade é considerada nesta pesquisa como resposta emocional relacionada ao medo e à preocupação, que podem levar à dificuldade de pensamento, concentração, sono irregular, dentre outros fatores.
  1. Exaustão emocional, que investiga indícios de exaustão emocional em colaboradores. A exaustão emocional, enquanto um dos fatores do Burnout, ocorre quando o trabalhador percebe que os seus recursos físicos e emocionais são inadequados para enfrentar as exigências do trabalho e do contexto organizacional. 

O Brasil está estudando fazer alterações na jornada de trabalho. Reduzir para 6 horas diárias ou mesmo seguir o modelo de 4 dias de trabalho na semana. Isso poderia ajudar a reduzir esses números? Quais seriam os benefícios dessa mudança?

Iandara: Pode contribuir, mas não de forma isolada. A alteração do modelo de trabalho ou da carga horária deve caminhar junto com o cuidado com a forma como o trabalho está organizado. É preciso avaliar e repensar o ritmo exigido, o controle/cobrança excessiva sobre os trabalhadores, pressão para entregas, a fragmentação das atividades que não permitem a visão completa da tarefa, a falta de suporte e apoio na execução das atividades, dentre outros fatores que podem influenciar nos resultados de bem-estar emocional. A partir dos resultados da pesquisa, cada organização poderá identificar os principais aspectos a serem discutidos para, em sintonia com a cultura organizacional, elaborar planos de ação que minimizem os impactos no bem-estar emocional do colaborador.

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